A verdade é que eu nunca fui de assistir luta de boxe. Meu pai tinha esse hábito, gostava, vibrava com cada golpe. Eu, não. Não perco meu tempo com esse esporte — cada um com seus gostos, claro. Mas sempre fico impressionado com a resistência daqueles atletas: boxeadores, lutadores de MMA, luta-livre… Eles apanham, levam socos no nariz, saem sangrando, com as orelhas amassadas, e parece que não sentem dor nenhuma no momento. Repito: mesmo com o nariz sangrando.
Mas eu acho que dói sim — só não dói na hora. A dor mesmo chega depois.
E a vida funciona exatamente assim.
Você está trabalhando, fazendo sua parte, e de repente:
“Agradecemos seu trabalho na empresa, mas precisamos reduzir custos. Você está demitido.”
Aquela história velha de contenção de despesas, vendas baixas. E na hora a gente pensa: “Tudo bem, eu já nem estava tão feliz aqui. Vai aparecer algo melhor.” E volta pra casa confiante.
O namoro acaba e você reage: “Tudo bem, eu já não queria mais.”
Mas aí chega o dia seguinte. Você acorda no horário do trabalho… mas não tem mais trabalho.
E começa a pensar nas verdadeiras razões da demissão: “Que contenção de gastos que nada… eles não acreditaram foi em mim.”
O golpe veio ontem, mas a dor está chegando agora.
É assim também quando você não é convidado pra uma festa e diz que não se importa. Na hora você engole seco, finge que nem ligou. Mas horas depois, quando a “pancadaria” interna começa a ser absorvida, você sente. E dói.
Da mesma forma que dói um término, uma perda, uma injustiça, um desaforo.
A verdade é simples: nas coisas triviais e nas grandes, a dor muitas vezes demora, mas chega.
Mas — e isso é importante — a alegria também chega. E quando ela chega, ela cura, costura, acalma, reorganiza.
A gente engole muitos sapos na vida, sim. A gente perde, desaba, leva golpe. Mas também se levanta, encontra outro trabalho, conhece outro amor, descobre novas oportunidades, vira a página.
E, no fim das contas, é isso que importa.
Porque a vida pode até te acertar sem avisar — mas é você quem escolhe o que fazer depois do impacto.
A dor passa.
A força fica.
E o próximo round sempre pode ser seu.
Um dia triste não é uma vida triste. Há pessoas que, quando algo preocupa, se recolhem. Fecham as cortinas do palco da vida, e isso não é depressão, é acolhimento. Tantas coisas nos dividem, e tão poucas nos acolhem. Há quem, diante da dor, abaixe o som e volte-se para dentro, como quem precisa arrumar a própria casa antes de receber visitas. Não é fraqueza. É fortalecimento. É a forma que a alma encontra para lidar com o que pesa.
Enquanto tenta resolver o que incomoda, olhe para suas emoções com carinho. Elas são mensageiras. E quando a gente acha que nunca mais vai ser feliz, é apenas uma forma triste de enxergar a vida. Quem está de fora, às vezes, sente o impacto desse silêncio. Mas nem sempre a gente vai estar bem, e tá tudo bem. Confie na capacidade da vida de te surpreender. Soltar a mão do controle não é desistir, é acreditar que você vai saber lidar com o novo quando ele chegar.
Respira. Conversa com as tuas emoções, dialoga com elas. A dor sempre vai aparecer. O que muda é a forma como você conversa com ela. Descansa um pouco. Amanhã as coisas melhoram. Na vida, nunca teremos tudo resolvido. E quase nunca é sobre os outros. Nem todas as respostas precisam ser imediatas. Amanhã pode acontecer tudo, inclusive nada. Pode ser um dia de celebração, um projeto que se concretiza. Ou pode ser um dia de susto, uma notícia inesperada, um diagnóstico difícil. Ninguém te prepara para isso. Não existe curso que ensine a lidar com o imprevisível.
Por isso, é preciso aprender a se ouvir. No passado, tínhamos mais paciência, e menos opções. Hoje, precisamos reaprender o valor do tempo e do silêncio.
Faço terapia há vinte anos. “Você faz terapia?”, me perguntam.
Óbvio que sim. Para lidar melhor com as coisas, para clarear a mente, para escrever com mais verdade. Tudo isso é importante. Porque quem se conhece, sofre menos e sente mais. E no fim, é sempre sobre isso: acolher o que doí, cuidar do que sente e confiar no que vem. A vida tem um jeito bonito de nos colocar de volta no eixo, mesmo que tudo pareça fora do lugar.
Leva tempo para que a gente aprenda a valorizar quem merece esse valor Leva tempo para que a gente aprenda o próprio valor. É claro que não podemos viver isolados em uma bolha, centrados no próprio umbigo e desprezando o resto do mundo. A verdade é que não existe saúde mental individual; nossa saúde mental é coletiva. E, se não entendermos isso, ainda não entendemos nada.
De vez em quando, é preciso uma boa dose de confiança na vida e nas pessoas. Entendo que admiramos ídolos como Ayrton Senna, mas são as pessoas simples, de coração leve e alma generosa, que realmente dão sentido à existência.
Hoje, lembro do meu padrinho, Elviro Volpato, amigo dos meus pais, um homem simples, de coração gigante. São pessoas assim que a gente deve guardar na memória e no coração.
Lembre-se agora das pessoas que você ama. Respeite quem o cerca. Honre sua família. Mas, acima de tudo, não se afaste de si mesmo. Frustrações fazem parte da vida, mas não devem apagar o valor que você tem. Você erra, tem limites, é imperfeito, e está tudo bem.
Meu padrinho sempre dizia: “Faça o seu possível e peça a Deus que cuide do impossível”. Palavras simples, mas cheias de sabedoria. Ele ainda completa: “A gente não controla tudo, não dá conta de tudo. Absorva seus erros e perdoe suas limitações”. Sempre que nos encontramos, encontro também paz. Ele tem um espírito jovem, uma inteligência serena e uma sabedoria que vem da vida, não dos livros.
Quem você admira? Quem são as pessoas que realmente merecem seu respeito, sua fala e sua atenção? Leva tempo para que a gente aprenda a valorizar quem merece esse valor. Sinto saudades de outro amigo querido, Anselmo Tramontim. Amigos são memórias que duram uma vida inteira. Leva tempo para percebermos que estamos aqui apenas de passagem.
Há dois momentos em que a vida nos mostra, sem rodeios, a própria fragilidade: em um velório ou quando alguém que amamos está na UTI. Nessas horas, entendemos que a vida é feita de ciclos, em alguns somos cuidados, em outros, cuidadores.
E você? Em qual fase se encontra hoje?
Termino com gratidão e carinho ao seu Elviro, exemplo de serenidade, fé e sabedoria. Que o mundo tenha mais pessoas como ele. Gente que, com gestos simples, ensina o verdadeiro valor da vida.
A felicidade não se encontra em farmácia. Ela não vem em cápsulas nem em pílulas mágicas. Os verdadeiros remédios para a alma estão nas coisas simples: um abraço sincero, um sorriso inesperado, uma oração feita com fé, a calma de um pôr do sol.
Se você tem um lar para voltar, comida na mesa e pessoas para compartilhar a vida, agradeça. A gratidão é um dos remédios mais poderosos que existem.
É preciso persistência — e também insistência — para ser feliz. A felicidade, às vezes, bate à porta como um cavalo encilhado: aparece, vai embora, retorna... Mas cabe a nós estarmos prontos para recebê-la.
Qual é o melhor remédio para a alma? Talvez o tempo, que ensina. Talvez o silêncio, que cura. Talvez a esperança, que fortalece. Talvez o perdão, que liberta. Cada um age em nós de uma forma única, trazendo alívio e renovação.
Não precisamos de fórmulas mágicas. O segredo está em aceitar as emoções — sejam alegrias ou tristezas — e aprender a colher prazer nos instantes mais simples do cotidiano.
A felicidade é, no fundo, saber lidar com a fragilidade e a beleza da vida.
E se hoje você parou para ler este texto, talvez já tenha tomado um dos melhores remédios para a alma: a palavra compartilhada.
Um conhecido costuma dizer: “Quem quer aprender alguma coisa, sai de casa. Quem fica em casa não aprende nada.” No bar, isso faz sentido. Lá, as mesmas piadas são repetidas por anos e ainda arrancam risadas. São anos rindo das mesmas histórias, e sempre é engraçado.
O melhor bar é aquele simples, sem luxo nem sofisticação. É lá que surgem diálogos eternos: um provoca — “Tu é mais rico que eu.” O outro rebate — “Mas meu time é melhor que o teu.” Há até um médico que nem é médico, mas, quando o assunto é saúde, todo mundo ouve. Às vezes fala com convicção e teoria, outras vezes sem nenhum conhecimento — mas ainda assim arranca respeito e risadas.
No bar, churrasco feito no latão. E, convenhamos, é o melhor sabor. Quem comanda a grelha é o “Mão Santa”, apelido do churrasqueiro que nunca erra o ponto: a carne sempre chega suculenta. No fim, o papelão queimado é tradição, um ritual cheio de sacanagem e amizade.
Dali já saíram grandes empresários, confidentes e parceiros de vida. Tem dias em que o bar vira quase uma terapia. Entre um gole e outro, alguém se abre, conta uma dor, uma dificuldade, e encontra um ouvido amigo. A vida não é fácil para ninguém — mas ali, por algumas horas, ela parece mais leve.
A palavra “bar” vem do francês barre, referência à barra de balcão que protegia as bebidas nas antigas tabernas. Hoje, mais do que balcão, o bar é ponto de encontro social, é roda de amigos, é palco da vida real.
Toda quinta-feira, invariavelmente, alguém está de aniversário. Presenteia com carne; cerveja, cada um paga a sua. O bar não é apenas diversão — é também cultura, amizade, memória e tradição.
Ainda assim, encerro celebrando o que de melhor existe nesse espaço: a leveza, a descontração, o riso fácil, o abraço sincero e a certeza de que, no fim das contas, todo bar é muito mais que um bar. É um pedaço da vida.

Robson Kindermann Sombrio
Psicólogo (CRP 12/05587) e autor de vários livros de autoajuda. @robsonkindermannsom