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COLUNISTAS

Quando o silêncio também abraça

22/12/2025 07h00 | Atualizada em 20/12/2025 08h54 | Por: Robson Sombrio

Às vezes a vida nos coloca diante de um Natal quieto, sem barulho de gente, sem mesa cheia, sem aquela fotografia perfeita de família reunida. E tudo bem. Este ano, provavelmente estarei sozinho no dia 24 e 25. Não falo isso com tristeza profunda, mas com a sinceridade de quem aprendeu a tirar força de lugares que nem sabe onde ficam. Tenho amigos que lembram de mim, que mandam mensagem, que convidam para dividir a noite. Sou grato por cada gesto. Mas também aprendi a respeitar meus silêncios. Talvez um dia eu volte a ter aquela “família de comercial”: filhos, cachorro, padrinho, madrinha… ou talvez a vida siga outros caminhos. Ela é difícil mesmo, e nem sempre nos entrega o que queremos na hora que queremos.

Nessas datas, eu faço meu ritual: preparo minha playlist, abro minha cerveja e deixo a escrita me encontrar. É curioso como, quando o mundo está comemorando, minha veia artística parece pulsar mais forte. Enquanto alguém revela amigo secreto, enquanto alguma família discute quem vai cortar o peru, eu escrevo. E observo. Porque no fundo, família também é lugar de suportes – e, muitas vezes, de suportar. A verdade é que tem muita gente que nem olha mais nos olhos de um parente e ninguém sabe exatamente por quê. Somos oito bilhões tentando se entender… e falhando. E tudo bem, de novo. Família não existe pra gente amar todo mundo intensamente; às vezes existe pra gente aprender convivência, limites e paciência.

Tem histórias se desenrolando agora que ninguém vê: famílias passando o primeiro Natal sem a mãe; outras sem o pai; irmãos fazendo falta na mesa porque a vida foi mais rápida do que todos esperavam. Talvez você esteja lendo isso dias depois, talvez meses. Não importa. Às vezes a gente só precisa de uma frase que alivie a pressão que carregamos no peito. Estamos todos lutando contra guerras internas que ninguém conhece. E se tem algo que aprendi é que o Natal não exige sorriso. Exige humanidade.

Vivemos na era das promessas fáceis, das religiões milagrosas, das frases prontas que prometem curar tudo. Mas o que mais vejo é gente carregando raiva, inveja, rancor, enquanto tenta pregar amor. Não faz sentido. Cura começa dentro. Começa quando a gente admite que sente, que dói, que falta, que machuca. Depois disso, as palavras boas fluem. Não porque são obrigatórias, mas porque são verdadeiras. Se neste Natal te faltar companhia, que não falte honestidade consigo mesmo. O silêncio também abraça. E, às vezes, é nele que a gente volta a ser inteiro.

Quando é preciso levantar da mesa

18/12/2025 07h30 | Atualizada em 18/12/2025 07h39 | Por: Robson Sombrio

“Sentar-se à mesa para almoçar!” Pensemos no almoço, mas poderia ser qualquer refeição. É uma declaração silenciosa de amor que fazemos a nós mesmos. É um gesto de cuidado, quase um afago. Um tempo em que escolhemos nossa própria companhia e, sem pressa, permanecemos ali.

Um amigo, dono de um dos melhores restaurantes de Santa Catarina, me liga:

— Preciso de ti. Tenho que servir um almoço fora da cidade. Pode ir lá me ajudar?

Eu nunca havia vivido essa experiência. E aceitei.

— Bora.

Desde aquele dia, venho pensando no ato de servir. Estamos neste mundo para isso: servir uns aos outros. Servir é a essência das relações. É doação, presença, amizade. Amizade que oferece ombro, tempo, silêncio. Sem modéstia alguma, amizade de verdade.

Esse é o tipo de autoconhecimento que a escrita me proporciona. Enquanto recomponha pratos, levava o churrasco até o buffet e servia quem ali estava para festejar, eu também revisitava sentimentos verdadeiros. Em um momento, a colher caiu no prato e sujou. Nunca tinha passado por aquilo. Rapidamente, retirei e coloquei outra limpa. Meu amigo me olhou e disse:

— Tá ligado, né?

Sim, eu estava. Servimos um banquete farto e delicioso.

As luzes ainda estavam acesas, mas a festa havia terminado. O salão, agora vazio, era puro silêncio. Música, drinks, alegria, gente feliz. Tudo já tinha ficado para trás. Ainda assim, uma moça permanecia sentada à mesa. Talvez se apegasse às lembranças daquela noite. Ou quem sabe às de uma festa anterior.

Aproximei-me e perguntei:

— Posso recolher seu prato?

— Sim, sim, respondeu.

A festa havia acabado. A banda não voltaria a tocar. As comidas já tinham sido recolhidas. Nada mais voltaria a ser como antes. A vida é assim.

Aquelas mesas não seriam novamente ocupadas. Nenhum garçom viria servir outra bebida. É difícil levantar da mesa e despedir-se quando ainda existe a esperança de que tudo possa voltar a ser como era. Vivemos momentos lindos na vida. Talvez, nunca mais experimentemos nada parecido. Ainda assim, que bom que a vida nos fez felizes, mesmo que por alguns instantes.

— Vem, pensei em silêncio. Levanta da mesa. Vamos pra casa. Precisamos fechar o salão.

Sem mais palavras, a moça se levantou. O que havia ali era saudade, não abstinência. E talvez, se ela fosse firme e corajosa o suficiente para recusar porções rasas de afeto, o jogo pudesse virar ali adiante.

Às vezes, amadurecer é isso: entender que houve um banquete, agradecer por ele e, então, ter coragem de levantar da mesa.

A prova é individual

10/12/2025 11h40 | Atualizada em 10/12/2025 11h39 | Por: Robson Sombrio

“Todos os homens, por natureza, desejam o saber.”

Aristóteles

No tempo da escola, a gente ria, brincava, jogava futebol, basquete, vôlei… mas a preferência sempre era o futebol.Quando chegava o momento das provas, tinha quem se saía melhor, quem não estudava e aprendia fácil, quem aprendia só de ouvir o professor…E existiam aqueles que precisavam de um reforço a mais. Esse era eu.

Lembro da professora dizendo: “Não pode olhar para o lado. A prova é individual.” Hoje entendo o peso dessa frase. A prova da vida também é individual. Cada um carrega suas próprias páginas, seus medos, suas fragilidades. Mas, também suas coragens. Somos histórias em construção. E cada um traz capítulos que ninguém vê. E não adianta olhar para o lado esperando copiar o caminho do vizinho. Lembra? A prova é individual. Não espere respostas prontas. Ninguém vai resolver o que é nosso.

A viagem é íntima, particular, e às vezes bonita… outras vezes pesada. Às vezes tão difícil que a gente gostaria de entregar a prova para alguém fazer no nosso lugar, ou pedir uma versão mais fácil. Mas não funciona assim. A vida exige que a gente olhe para o que está na nossa frente, não para a trajetória do outro. Cada pessoa vive uma batalha silenciosa: um pai de família sem trabalho, uma mãe mudando de cidade para tentar salvar um casamento, alguém recebendo um diagnóstico de câncer, um filho passando no vestibular, um pai ganhando um aumento, uma pessoa celebrando a cura que tanto esperou.

A prova é individual… lembra? Comparar caminhos é inútil: você não vive a vida de ninguém e ninguém vive a sua. O sucesso do outro não diminui o seu. Mas tudo o que você faz com o coração volta, sempre volta. E quando você chega com leveza, presença e alto astral, as chances de tudo dar certo aumentam. Olhe pra frente: a prova é sua. É você quem enfrenta o que precisa ser enfrentado. É você quem escolhe continuar. E no fim, pergunte a si mesmo: O que de melhor eu sei fazer com a vida que tenho? Esse texto não é só meu, é nosso. Partilhar saberes é bonito. Eu sou muito a favor dessa sensação de “fiz tudo o que dava pra fazer”. De espremer até a última gota do limão. Porque, no fim, é você quem escreve a resposta.

Entre chutes e risadas

08/12/2025 08h46 | Atualizada em 08/12/2025 09h01 | Por: Robson Sombrio
Bilica, a minha esquerda, um ser humano iluminado, e o Ceceu, a direita, aquele jogador de campeonato, quase profissional

Gosto de escrever trazendo nomes de amigos. Tem sido assim nas últimas crônicas, algo meio Jô Soares conversando com Pedro Bial. E por que não Robson conversando com Marcello Alberton? Marcello, dentista aqui de Braço do Norte, como diria um manezinho da Ilha: um querido. E é mesmo.

A gente cresceu na mesma rua, embora ele seja um pouco mais novo do que eu. Sempre foi bom de bola. Daqueles que, se tivesse apostado todas as fichas, poderia ter seguido carreira. Tem jeito, tem habilidade, tem o brilho dos campeonatos de interbairros e interempresas que só quem vive sabe como marca a gente.

Sábado tivemos aquela pelada de sempre. O pessoal adora brincar que escritor não sabe jogar bola, que não dá pra ter talento na caneta e nas chuteiras. (Risos.) Não sou camisa 10, mas também não pensem que sou ruim, me viro bem nas quatro linhas.

E ganhar é bom. Do Ceceu, então, melhor ainda. Eu já até imagino o que ele vai dizer: “Não acredito que ele escreveu texto e ainda publicou no jornal!” Pois é, Ceceu… Futebol também é isso. História boa pra contar.

E falando em histórias, grato a galera de Orleans, Bola e Bate-Papo, pelo convite, Sempre rende assunto. A gente brinca, a gente ri. E Jucemir Alberton, o famoso Limão, é uma verdadeira figura. Ele joga com garra, alma e coração. É o melhor deles, entrega tudo em cada lance. Melhor ainda é o André (de… até hoje não sei o sobrenome), que vive desafiando o Limão. É Criciúma roxo, começou a carreira com o Éder (segundo ele). Sim, o Éder, o nosso ídolo maior de Lauro Müller. Aquele que vestiu a camisa da seleção Itália.


Pra você ver: o futebol abraça tudo. Amizade, risadas, paixões e até rivalidades saudáveis. O mais importante? Socialização. Na neuropsicologia, a gente fala que o cérebro precisa dessas interações: o jogo, a conversa, o toque na bola, a troca de olhares, a estratégia improvisada. Tudo isso acende áreas que fortalecem memória, atenção, emoção e pertencimento. Jogar bola é, sem perceber, treinar a mente para viver.


E como esquecer o nome do nosso time? Bilica Futebol Clube. Um nome que já chega dando carrinho. Bilica é um ser humano iluminado, daqueles que fazem bem só de estar perto. Depois do Natal a gente se encontra em Garopaba para aquele camarão. Ele corre a vida com alegria, presença e histórias nas pernas, e é sempre uma companhia que vale a pena.


Que bom ter tudo isso. Que privilégio vivenciar tudo isso.

Pra encerrar: sim, eu ganhei do Ceceu (aquele jogador de campeonato, quase profissional). Fiz dois gols. Corri até ele no melhor estilo Romário e mandei ficar quietinho. E ganhar é bom… mas ganhar assim é melhor ainda. 
 

A Dor Que Chega Depois

01/12/2025 08h05 | Atualizada em 01/12/2025 08h06 | Por: Robson Sombrio

A verdade é que eu nunca fui de assistir luta de boxe. Meu pai tinha esse hábito, gostava, vibrava com cada golpe. Eu, não. Não perco meu tempo com esse esporte — cada um com seus gostos, claro. Mas sempre fico impressionado com a resistência daqueles atletas: boxeadores, lutadores de MMA, luta-livre… Eles apanham, levam socos no nariz, saem sangrando, com as orelhas amassadas, e parece que não sentem dor nenhuma no momento. Repito: mesmo com o nariz sangrando.
Mas eu acho que dói sim — só não dói na hora. A dor mesmo chega depois.
E a vida funciona exatamente assim.
Você está trabalhando, fazendo sua parte, e de repente:
“Agradecemos seu trabalho na empresa, mas precisamos reduzir custos. Você está demitido.”
Aquela história velha de contenção de despesas, vendas baixas. E na hora a gente pensa: “Tudo bem, eu já nem estava tão feliz aqui. Vai aparecer algo melhor.” E volta pra casa confiante.
O namoro acaba e você reage: “Tudo bem, eu já não queria mais.”
Mas aí chega o dia seguinte. Você acorda no horário do trabalho… mas não tem mais trabalho.
E começa a pensar nas verdadeiras razões da demissão: “Que contenção de gastos que nada… eles não acreditaram foi em mim.”
O golpe veio ontem, mas a dor está chegando agora.
É assim também quando você não é convidado pra uma festa e diz que não se importa. Na hora você engole seco, finge que nem ligou. Mas horas depois, quando a “pancadaria” interna começa a ser absorvida, você sente. E dói.
Da mesma forma que dói um término, uma perda, uma injustiça, um desaforo.

A verdade é simples: nas coisas triviais e nas grandes, a dor muitas vezes demora, mas chega.
Mas — e isso é importante — a alegria também chega. E quando ela chega, ela cura, costura, acalma, reorganiza.
A gente engole muitos sapos na vida, sim. A gente perde, desaba, leva golpe. Mas também se levanta, encontra outro trabalho, conhece outro amor, descobre novas oportunidades, vira a página.
E, no fim das contas, é isso que importa.
Porque a vida pode até te acertar sem avisar — mas é você quem escolhe o que fazer depois do impacto.
A dor passa.
A força fica.
E o próximo round sempre pode ser seu.

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