“Sentar-se à mesa para almoçar!” Pensemos no almoço, mas poderia ser qualquer refeição. É uma declaração silenciosa de amor que fazemos a nós mesmos. É um gesto de cuidado, quase um afago. Um tempo em que escolhemos nossa própria companhia e, sem pressa, permanecemos ali.
Um amigo, dono de um dos melhores restaurantes de Santa Catarina, me liga:
— Preciso de ti. Tenho que servir um almoço fora da cidade. Pode ir lá me ajudar?
Eu nunca havia vivido essa experiência. E aceitei.
— Bora.
Desde aquele dia, venho pensando no ato de servir. Estamos neste mundo para isso: servir uns aos outros. Servir é a essência das relações. É doação, presença, amizade. Amizade que oferece ombro, tempo, silêncio. Sem modéstia alguma, amizade de verdade.
Esse é o tipo de autoconhecimento que a escrita me proporciona. Enquanto recomponha pratos, levava o churrasco até o buffet e servia quem ali estava para festejar, eu também revisitava sentimentos verdadeiros. Em um momento, a colher caiu no prato e sujou. Nunca tinha passado por aquilo. Rapidamente, retirei e coloquei outra limpa. Meu amigo me olhou e disse:
— Tá ligado, né?
Sim, eu estava. Servimos um banquete farto e delicioso.
As luzes ainda estavam acesas, mas a festa havia terminado. O salão, agora vazio, era puro silêncio. Música, drinks, alegria, gente feliz. Tudo já tinha ficado para trás. Ainda assim, uma moça permanecia sentada à mesa. Talvez se apegasse às lembranças daquela noite. Ou quem sabe às de uma festa anterior.
Aproximei-me e perguntei:
— Posso recolher seu prato?
— Sim, sim, respondeu.
A festa havia acabado. A banda não voltaria a tocar. As comidas já tinham sido recolhidas. Nada mais voltaria a ser como antes. A vida é assim.
Aquelas mesas não seriam novamente ocupadas. Nenhum garçom viria servir outra bebida. É difícil levantar da mesa e despedir-se quando ainda existe a esperança de que tudo possa voltar a ser como era. Vivemos momentos lindos na vida. Talvez, nunca mais experimentemos nada parecido. Ainda assim, que bom que a vida nos fez felizes, mesmo que por alguns instantes.
— Vem, pensei em silêncio. Levanta da mesa. Vamos pra casa. Precisamos fechar o salão.
Sem mais palavras, a moça se levantou. O que havia ali era saudade, não abstinência. E talvez, se ela fosse firme e corajosa o suficiente para recusar porções rasas de afeto, o jogo pudesse virar ali adiante.
Às vezes, amadurecer é isso: entender que houve um banquete, agradecer por ele e, então, ter coragem de levantar da mesa.

Robson Kindermann Sombrio
Psicólogo (CRP 12/05587) e autor de vários livros de autoajuda. @robsonkindermannsom