Comerciante de Braço do Norte realizou em 1997 um transplante de medula
Em 1996, o comerciante braçonortense Dilmar Alberton Demay, na época com 29 anos, teve de passar por um momento crucial em sua vida. Diagnosticado com leucemia linfoblástica aguda (LLA), sua chance de sobrevida seria a realização de um transplante de medula, um tratamento que, na época, era pouco conhecido e relativamente novo. No próximo 19 de fevereiro, “Brancão”, como é mais conhecido entre os amigos, celebrará 25 anos de transplantado, o que torna ele não apenas um paciente pioneiro a ser submetido a esse tipo de procedimento, como um dos mais longevos de que se tem notícia na região. Já os desafios impostos a ele desde então, são encarados com bom humor, fé e perseverança.
Dilmar admite que, quando soube da sua doença e do que teria que fazer, teve medo. Porém, logo resolveu deixar esse sentimento de lado. “No começo eu fiquei muito preocupado, acreditando que não poderia sobreviver. Mas então resolvi encarar as coisas de forma um pouco mais leve e tenho seguido assim desde então”, reforça.
O empresário lembra dos primeiros sintomas e da ajuda que teve do médico Emir Dacorégio. “Comecei a me sentir fraco, com a visão turva. Estava emagrecendo rapidamente. Resolvi consultar com o doutor Emir, que fez um exame de sangue e percebeu que a minha taxa de leucócitos estava alta demais. Foi então que fui encaminhado para Florianópolis e, posteriormente, para Curitiba, onde inicieu o tratamento”, recorda.
Brancão, aliás, faz questão de ressaltar o papel que teve o médico braçonortense em toda a sua trajetória. “Emir foi muito importante em tudo. Desde o início, quando ele viu que havia algo de muito errado com meu sangue. Foi essencial para o meu diagnóstico, passando pelo acompanhamento do meu tratamento, até os dias de hoje. Ainda o consulto regularmente e, como ele sabe de todo o meu histórico, isso tem sido crucial”, destaca.
O transplante de medula, que se dá através da injeção de células-tronco hematopoiéticas de um doador compatível geneticamente, foi realizado em São Paulo, em 19 de fevereiro de 1997. O doador foi Djalma, irmão de Dilmar. Apesar de tudo ter corrido bem durante o procedimento, o paciente ainda precisaria aguardar duas semanas para ter certeza de que o enxerto havia ‘pegado’.
Foram momentos angustiantes também para a família, especialmente para a esposa, Juçara Wiggers Uliana Demay, e o filho, Túlio Uliana Demay, à época com apenas sete anos de idade. “Para receber o transplante, meu marido teve que fazer, antes, radioterapia e quimioterapia muito intensas. Ele precisava ‘zerar’ o seu sistema imunológico para que o seu corpo aceitasse as células do irmão e, a partir dali, começasse a reproduzir as células saudáveis”, lembra Juçara. “Nessas duas semanas após o transplante, caso não desse certo, o risco de ele morrer era muito grande”, sentencia.
O transplante funcionou, mas necessariamente não livrou Dilmar dos problemas de saúde. Por pelo menos dez anos, Brancão teve de tratar reações causadas pelo enxerto e outras sequelas. Não se sabe se em decorrência da leucemia ou não, tem dificuldade para ouvir e, aos 55 anos, sua memória já não é mais a mesma. “Algumas pessoas que conheci anos atrás, já não me recordo hoje em dia”, lamenta.
Mas Dilmar não deixa esses problemas o abalarem. Chegou a acreditar que morreria sem conhecer seus netos. Porém, hoje, conta com a companhia da sua netinha Olívia, de quatro anos. A esposa Juçara também destaca o papel de amigos e da comunidade em geral em dar apoio nas horas difíceis. “Muita gente ajudou de alguma forma. Se uniram em correntes de oração, realizaram novenas. Isso nos deu muita força para seguirmos em frente”, diz.
Mesmo com as dificuldades, Brancão tomou a decisão de não se preocupar. Afirma se apoiar muito na sua família e na sua fé em Deus. “Passei a encarar a vida de forma leve e deixar que aconteça o que tiver que acontecer. A qualquer um que possa estar passando por uma situação semelhante à qual eu passei, digo o seguinte: você não deve ter medo, 50% da sua recuperação depende de si. Além disso, ter muita fé, acreditar em Deus e ter o apoio da família também é essencial. Todos vamos morrer um dia, mas enquanto isso não acontece, devemos valorizar a vida e aproveitá-la da melhor forma possível”, aconselha.