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Vinte anos de atuação em prol da transformação que se deseja

Jovem morador de Tubarão, André Koch, compartilha suas experiências no voluntariado

Braço do Norte, 29/09/2023 08h40 | Por: Redação
André iniciou voluntariado no Abrigo dos Velhinhos, aos 7 anos

Uma vida dedicada ao voluntariado não proporciona transformações apenas para os que recebem ajuda. André Koch, 27 anos, que começou sua atuação em prol do próximo com apenas sete anos, fala sobre os impactos que a busca por uma sociedade mais justa e igualitária causam em sua vida. 

Em sua trajetória, o morador de Tubarão já atuou em favor dos idosos; na construção e reforma de casas de famílias em vulnerabilidade; contra a evasão escolar de crianças e adolescentes; no empoderamento de mães e pais de família; em hospitais; na organização de estatuto de entidades; auxiliando na captação de recursos; fomentando a cultura e cidadania; e entre outras iniciativas. Um dos reflexos disso foi sua escolha acadêmica e profissional, voltada para a tríade Psicologia, Gestão Pública e Terceiro Setor, visando ter, além do amor, a expertise necessária para estar à frente de causas sociais. Na entrevista a seguir, André compartilha suas experiências e aconselha a quem tem interesse em se tornar um voluntário. Confira!

Como e por que você começou a se envolver em trabalho voluntário? O que te influenciou a tomar essa decisão? 

André: O trabalho voluntário surgiu em minha de forma espontânea, quando ainda era criança. Minha avó paterna, Cecília, era uma das integrantes do Clube da Lady, instituição mantenedora do Abrigo dos Velhinhos de Tubarão, e, concomitante a isso, minha mãe Marli realizava seu trabalho voluntário na instituição. Quando eu tinha em torno de 7 anos, minha mãe me levava para acompanhar seu serviço voluntário. A partir daí, comecei a me envolver mais e mais naquele ambiente, ajudando nas tarefas que uma criança poderia realizar, desde servir o café, até auxiliar na higienização. Quando minha mãe findou seus trabalhos no Abrigo dos Velhinhos, eu continuei como uma espécie de voluntário mirim. Lá, desenvolvo meus trabalhos até hoje, cerca de 18 anos.

Quais as principais causas sociais e organizações em que já atuou? Por que decidiu se envolver com essas causas? 

André: Não foi bem uma ‘’decisão’’ ter o trabalho social como um norte de vida. Isso surgiu como uma espécie de hobby, não diferente de andar de skate, jogar videogame ou brincar de bola. Apenas tive um direcionamento diferente. Sempre fui uma criança livre, gostava de brincar e tudo mais, porém, em meus tempos livres gostava, preferivelmente, de estar com os idosos. É por isso que tenho convicção de que as crianças precisam de exemplo, necessitam ser guiadas para o caminho certo, para experiências inspiradoras, e ter no seu esquema mental o voluntariado como algo natural. Assim, desenvolverá a sensibilidade pelo próximo e, principalmente, a capacidade de acolher e ser empático. 

Em minha trajetória, já atuei em diversas frentes, em favor de idosos, na construção e reforma de casas de famílias em vulnerabilidade, na atuação contra a evasão escolar de crianças e adolescentes, no empoderamento de mães e pais de família, em hospitais, por meio dos terapeutas da alegria, na organização de estatuto de entidades, auxílio em captação de recursos, fomento da cultura e da cidadania, e muitas outras iniciativas que pude investir minha energia, claro, sempre cercado de pessoas do bem, pois nada se faz sozinho. 

Como foi a experiência de morar no Novo México e ter contato com povos de culturas diferentes?​

André: A problemática envolvendo a imigração mexicana nos Estados Unidos é uma questão social que precisa ser olhada com atenção e zelo. A xenofobia é notória na América do Norte, principalmente para aqueles que defendem a ideologia “América para os americanos’’, que estigmatiza qualquer imigrante, desde os que vão por conta do êxodo, os que procuram oportunidades de trabalho e até estudantes de outros países. 

Aos 15 anos, morei em Silver City, no estado do Novo México, onde pude ter contato com muitas histórias de superação, através dos programas sociais desenvolvidos na Western New Mexico University, onde minha tia Alexandra Neves lecionava. Outras iniciativas eram realizadas em Bayard, cidade onde eu estudava a High School. Ali, o acolhimento era voltado principalmente a descendentes das tribos Navajos, originárias do sul dos EUA. Foi uma experiência sem igual, que levo para minha vida. É importante ressaltar que o território do Estado do Novo México foi tomado pelos EUA, sendo um estado de duas línguas oficiais, o espanhol e o inglês, o que facilitou a minha comunicação. Quando não entendia o inglês, recorria ao ‘’portunhol’’. 

Em relação às visitas aos hospitais, como você percebe o impacto desse trabalho na vida das pessoas que você ajudou e também na sua vida?

André: Em 2015, por iniciativa da professora de Artes e Artes Cênicas, Carla Garcia Marcelino, foi reativado no Dehon o projeto Terapeutas da Alegria, nomeado de Terapeutas TubaCity, uma iniciativa inspirada nas ações do Dr. Patch Adams, um famoso médico que utiliza a alegria para incentivar a cura de seus pacientes. O objetivo é promover a experiência da alegria como fator potencializador de relações saudáveis e contribuir no processo de melhoria do quadro patológico, por meio da atuação de pessoas sensíveis na figura do doutor palhaço, junto às pessoas hospitalizadas, seus acompanhantes e profissionais de saúde. 

Tive o prazer de fazer parte da primeira turma, em que passamos por toda uma formação com profissionais do ‘’riso’’, que ensinavam para a nossa turma a empatia e o acolhimento, para que, meses depois, pudéssemos estar capacitados a visitar os hospitais, asilos e creches. Após algum tempo no grupo, fui incumbido da missão de organizar as visitas semanais ao Abrigo dos Velhinhos para os terapeutas mirins. Incentivar aquelas crianças neste caminho, aprender com a superprofissional Carla e sua fiel escudeira, professora de Música Vera Lúcia Vianna, foi um grande divisor de águas em minha formação como pessoa. Quero deixar explícito também meu agradecimento ao diretor do colégio Dehon, José Antônio Matiolla, que é um baluarte na educação, sem dimensões, sempre incentivando e fomentando projetos edificantes. 

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André teve na família o exemplo para seguir no voluntariado

Quais foram os desafios enfrentados por você ao fundar o Instituto Nossa Família? Como conseguiu mobilizar recursos e ajudar as famílias afetadas?

André: O Instituto Nossa Família nasceu em um momento muito delicado para Tubarão, em 16 de outubro de 2016, quando ocorreu o vendaval que devastou a cidade, deixando muitas famílias desabrigadas. Por volta de 3 mil pessoas foram afetadas diretamente, casas perdidas, outras condenadas. A partir disso, eu e mais um grupo de amigos fomos a campo, entrando nas vielas da cidade, nas comunidades mais carentes e auxiliando o poder público na ajuda aos necessitados. Naquele momento, colocávamos nossos carros à disposição para carregar telhas, lonas, tijolos, roupas, cestas básicas, enfim, qualquer tipo de insumo que serviria de alguma forma para ajudar os afetados.

As doações foram concentradas na Arena Multiuso Estener Sorato da Silva, e, após a triagem, saíamos para a distribuição. Quando chegamos ao mês de novembro e as doações já estavam escassas, reunimos o grupo de voluntários e decidimos continuar visitando essas famílias, para fazer a avaliação da ajuda concedida e as demandas que ainda existiam. Durante todos os dias de novembro, os voluntários revezavam para cozinhar nas casas uns dos outros e, assim, distribuir marmitas nas comunidades. Este foi o modo de chegar mais perto destas famílias e nos colocarmos à disposição. Em cada visita, éramos acolhidos como família. Por isso, surgiu a ideia de batizarmos o grupo de “Nossa Família”, que foi formalizado em fevereiro de 2017. 

Desde lá, o grupo só cresceu e hoje realiza campanhas diversas. Todas as campanhas têm como objetivo incentivar a educação e promover o amor e a caridade às pessoas em vulnerabilidade social. Atualmente, as ações são organizadas pela Rosemari Smaniotto, que se dedica incansavelmente, 24 horas, para auxiliar quem precisa. 

Quais foram os principais projetos e realizações do seu mandato? 

André: O cargo de presidente é meramente formal, pois uma instituição é feita de pessoas. Seres abnegados que doam o maior e mais preciso bem que existe: o tempo. Já no início da gestão, em 2019, conseguimos adquirir a nossa tão sonhada “Kombi”, através de um grande bazar realizado em parceria com a Fundação Vida Nova, coordenada na época pela primeira-dama do estado, Késia Martins. A aquisição da Kombi otimizou nossos serviços, como o transporte de pessoas para consultas e as mais diversas demandas. 

Instituímos, por coordenação da Rosimari, o projeto “Construindo Sonhos’’, que consiste em reformar e até reconstruir casas de famílias com precariedade de moradia, inclusive algumas que ainda sofriam os impactos do vendaval de 2016. Naquele ano, chegamos à marca de quatro casas construídas. Outra aquisição importante foi uma caminhonete, que serviu para o transporte de mobílias e materiais de construção. Ainda, construímos uma edícula que serviu como sede. Em 2020, fomos indicados pela Câmara de Vereadores para receber o certificado de Utilidade Pública, que colocou o Instituto Nossa Família como uma instituição formal da cidade, permitindo a realização de diversas parcerias público-privadas.

Você está envolvido em algum projeto atualmente?

André: Atualmente, ocupo o secretariado do Instituto Nossa Família e realizo meu voluntariado no Abrigo dos Velhinhos, todas as terças-feiras pela manhã. Em 2021, recebi o convite do Jornal Diário do Sul de assumir a coluna social do meu saudoso tio avô Berto Koch, colunista de grande expressividade em todo o Estado. Nesta coluna, incentivo ações sociais, procurando dar destaque para projetos inspiradores.

De que forma o trabalho voluntário influenciou na sua escolha acadêmica e de carreira? Como acredita que a Psicologia e a Gestão Pública se relacionam com seu compromisso com o terceiro setor?​

André: O comportamento humano sempre foi um assunto que me chamou atenção. A Psicologia ligada aos fenômenos sociais sempre me interessou. Meu interesse implica principalmente nos fenômenos psicológicos de trabalhadores de família e suas vivências, em uma visão com o objetivo de analisar e aprimorar relações de trabalho e a saúde, o bem-estar e a segurança das pessoas. 

A gestão pública permite que tenhamos um olhar mais técnico referentes às problemáticas sociais, já que o servidor público é quem efetivamente trabalha no sentido de mitigar as desigualdades sociais, fomentando projetos e até auxiliando as entidades e as organizações da sociedade civil organizada. Neste sentido, busco aprimorar meu conhecimento no terceiro setor, que se manifesta através das instituições que agem onde o serviço público não consegue atuar. Então, a tríade psicologia, gestão pública e terceiro setor se complementam e me dão expertise para estar à frente de causas sociais.

Qual foi a história ou experiência que mais te marcou durante esta trajetória?

André: Ao longo de mais de 15 anos visitando famílias e em contato com a comunidade, entrando nas vielas da nossa cidade, pude sentir a energia contagiante de meninos e meninas, que, apesar de tantas dificuldades, jamais desistiram de lutar por seus futuros. Infelizmente, nessas andanças, tive a tristeza de acompanhar histórias que acabaram em tragédia por falta de oportunidade, apoio e investimento. Não consigo citar uma só história, são diversas, nos mais variados sentidos. Digo apenas que estou aqui para ser resistência e continuarei na busca de uma sociedade mais igual e justa.

Para quem está pensando em se voluntariar, que mensagem você gostaria de deixar?

André: Digo com propriedade que todos nós temos uma habilidade que pode ser aproveitada para o voluntariado. Uns se identificam com a natureza, outros com animais, problemas sociais, enfim, há muitas causas pelas quais podemos doar nosso tempo. Se voluntariar é ampliar a compreensão das desigualdades existentes na sociedade, nos fornece a visão de conhecer novas pessoas e realidades, nos dando oportunidades e experiências. O trabalho voluntário é a oportunidade de o cidadão desempenhar um papel ativo pelo bem-estar da sociedade e ser a mudança que tanto almeja no mundo. Há diversas instituições que procuram voluntários. Quem começa não consegue mais parar. É só começar!


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