A vinda de migrantes para o Sul gera oportunidades de sobrevivência, mas pode afetar o bem-estar de pessoas naturais da localidade
Com um dos melhores índices de segurança do País, o Sul de Santa Catarina tornou-se um dos principais destinos de migrantes e emigrantes. Fatores como Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e qualidade de vida também são responsáveis pelo crescimento populacional, e vêm atraindo pessoas que buscam melhores condições para viver.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), algumas cidades da região ultrapassam 10% de crescimento populacional nos últimos nove anos. Em 2010, Braço do Norte possuía 29.018 habitantes, e em estimativas realizadas em 2019, a cidade apresenta 33.450, mostrando um crescimento populacional de 13,25%. Além dos altos índices de natalidade e expectativa de vida elevada, a migração é um dos principais causadores deste crescimento.Além de Braço do Norte, outros municípios da região apresentaram aumento considerável na estimativa de crescimento na população. Armazém, que possuía 7.753 habitantes em 2010, agora possui 8.674, apresentando crescimento de 10,6%. São Ludgero é o município que mais se destacou nas estimativas regionais, com um crescimento aproximado de 18%. Em 2010 mostrava 10.993 residentes, agora possui 13.418.
Segundo Ibaneis Lembeck, prefeito licenciado de São Ludgero, o aumento populacional na cidade deve-se ao crescimento em diversos âmbitos sociais. “Todos nós, gestores e moradores das cidades e região temos feito um ótimo trabalho nos últimos anos. Questões como saneamento básico, empreendedorismo, educação e outras ações que resultam no desenvolvimento de cada cidade. Isso acaba atraindo moradores de outras localidades, de outras regiões, que procuram locais com melhores condições de vida”, destaca.
Para Alexandre Pereira, presidente da Câmera de Vereadores de São Ludgero, e que está atuando como prefeito interino, durante a licença de Ibaneis, por meio de informações e os contatos mantidos com várias destas pessoas originárias de vários estados do Brasil, a oferta de emprego, o bom atendimento na saúde e a qualidade educacional são os principais pontos que atraem muitas pessoas para a região do Vale do Braço do Norte, em especial São Ludgero. Porém, esse crescimento populacional acelerado causa apreensão. “Existe uma preocupação muito grande da Gestão Municipal, inclusive, dos vereadores em relação a isso, pois muitas destas pessoas chegam apenas com a roupa do corpo precisando de ajuda, com a esperança redobrada em busca de uma vida melhor, e, diante desta situação, os custos públicos para os atendimentos aumentam, podendo comprometer o padrão bom de atendimento oferecido pelo poder público às famílias naturais da região”, relata.
Apesar da aflição, São Ludgero se planeja para melhorar a infraestrutura da cidade. No dia 30 de agosto, a Administração Municipal recebeu a equipe do IBGE para uma reunião, a fim de e planejar, detalhar e tratar de uma saudável parceria para realização do Censo Demográfico do próximo ano que apontará com exatidão a população de cada município brasileiro. São Ludgero terá um Posto de Coleta, 12 recenseadores e 2 supervisores, trabalhando de agosto a outubro de 2020. Porém, durante a reunião ficou claro para os representantes da Administração Municipal que os números apresentados estão muito abaixo da realidade atual de São Ludgero, a exemplo dos 4.128 domicílios apresentado no Censo de 2010.
A visão do migrante
Márcia Conceição Balbino, de 47 anos, técnica em enfermagem, é funcionária da Secretaria de Saúde (ESF São Francisco de Assis) em Braço do Norte. Natural de Salvador, Bahia, mora no Centro com seu filho Márcio Gabriel Conceição Souza, de 11 anos. Veio em 2016, para conhecer o município e gostou tanto da cidade que o local de visita acabou virando sua moradia. “Aqui no Sul percebo que a acessibilidade a uma boa educação é menos concorrida que no Nordeste, de onde eu venho”, conta admirada. Destaca pontos perceptíveis que atraem migrantes e emigrantes para a região. “Acredita-se que o Sul é uma região rica em oportunidades de emprego, de melhor qualidade de vida”, distingue.
“No ESF que trabalho, percebemos a presença de diversos nordestinos e haitianos. Tenho contato profissional e pessoal com vários deles. As mulheres, na maioria das vezes, engravidam para garantir a moradia no país”, conta. Para ela, a migração dá oportunidades para os que vêm de fora, mas pode gerar consequências sociais ruins. “As pessoas que vêm em busca de melhores condições de vida, às vezes, aceitam qualquer remuneração e acabam sendo desvalorizadas. Além disso, várias indústrias aqui da região se prevalecem dessa situação e colocam essas pessoas sem experiência e nenhuma qualificação, influenciando diretamente a qualidade do serviço que oferecem”, destaca.