Sem uma das pernas, Douglas Ribeiro trabalha como pavimentador em Braço do Norte e é exemplo para os colegas
Trabalhar de pavimentador, colocando lajotas e meios-fios, sem ter uma das pernas, é encarado com naturalidade pelo carpinteiro Douglas Ribeiro, 28 anos. Há dois meses morando em Braço do Norte, seu trabalho não passa despercebido por quem transita na SC-370, no Rio Bonito. Chama a atenção ver o rapaz pulando de um lado para o outro, ou se deslocando com ajuda de bengalas, em meio a outros funcionários.
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DOUGLAS perdeu a perna em um acidente de moto quando tinha 16 anos[/caption]
Douglas sofreu um acidente automobilístico em Criciúma quando tinha 16 anos. Hoje tem consciência que de forma irresponsável pilotava uma moto e seu padrasto o acompanha conduzindo outra motocicleta. Um motorista alcoolizado acabou atingindo os dois. Ele perdeu a perna esquerda e parte do movimento do braço no mesmo lado, seu padrasto, a vida. Três meses após o acidente, retornou a morar com seu pai em Laguna, sua cidade natal, onde, durante nove meses, aprendeu o ofício da carpintaria. Achou que já sabia o bastante para seguir carreira solo. Comprou as ferramentas e começou a construir casas de madeira. Não demorou para ser observado pela construtoras que queriam o seu trabalho. Foi contratado por uma madeireira, onde ficou fichado por cinco anos. Após este período, contratou um ajudante e voltou a trabalhar por conta. Acredita que tenha feito mais de 50 casas nesta época, praticamente uma residência por mês. “Casa de madeira é rápido para levantar. Você estica as linhas e pronto, é só colocar as paredes”, fala com a simplicidade de quem domina bem o que faz.
O carpinteiro, porém, começou a perceber que, de uns tempos para cá, o serviço em Laguna começou a diminuir. “As pessoas estão contratando as empresas para fazer suas casas. O trabalho já está escasso para o grande número de pedreiros”. Depois desta constatação, decidiu vir para Braço do Norte onde reside o irmão Mateus e que tem, atualmente, a mão de obra valorizada devido ao fluxo de trabalho oferecido. “Meu irmão falou com o patrão dele que eu estava precisando de um emprego e fui contratado rapidinho”, explica Douglas.
O “patrão dele” é Michel Ascari, dono de uma empreiteira de mão de obra que faz, entre outras coisas, o acabamento nas estradas pavimentadas em Braço do Norte. “Eu já conhecia do Douglas de vista. Quando ia para Laguna, sempre via ele construindo casas e me chamava a atenção um cara sem uma perna que trabalhava com muita vontade. Não tive dúvidas e contratei na hora”. Michel diz que Douglas é um funcionário dedicado e trabalhador. “Não tenho medo de dizer que ele faz até mais do que muitos que tem as duas pernas”, elogia o chefe. “Ele motiva e é exemplo para os colegas que trabalham próximo”, ressalta o patrão que tem 17 colaboradores somente em obras de Braço do Norte.
Por coincidência, Douglas está trabalhando na mesma rua da casa que ele alugou para morar com a esposa, a mãe aposentada e uma filha de oito anos. “Depois de terminarmos a Rua Antônio Lino Lessa, temos bastante serviço. Se ele continuar assim, não temos dúvidas que teremos bastante trabalho para ele nos próximos meses”, diz o patrão orgulhoso.
fabricou sua prótese
Depois que sofreu o acidente, Douglas procurou auxílio do governo ou um benefício que pudesse ajudar pela sua deficiência. “Fui aconselhado pelo médico perito do INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social) a colocar uma perna de prótese e trabalhar. Era o empurrão que eu precisava ouvir. Percebi que não era um inválido e que a minha força de vontade era maior do que esta minha dificuldade de mobilidade”, conta.
Sem condições financeiras para bancar uma perna mecânica de verdade e sob medida para seu perfil, o próprio Douglas, usando sua arte de carpintaria montou uma prótese. “Juntei um pedaço de fibra de vidro e uma mola de Fusca e adaptei uma perna mecânica. Ela até que funcionou durante uns dias, mas quando fui ajudar meus parentes na plantação em um sítio que temos lá no Sertão da Maricota, na Pescaria Brava, acabei quebrando a ponta da mola e decidi que não ia mais usar”, recorda.
Quanto a trabalhar com a colocação de meio-fio ou com o serviço pesado, Douglas diz que é uma opção sua. “Graças a Deus e ao bom trabalho que realizei por onde passei até hoje tenho bastante opções de trabalho. Estou fazendo este trabalho aqui porque gosto e o salário é bom”, diz enquanto pula em uma perna e retira os pavers de uma calçada com a ajuda de uma retroescavadeira hidráulica.