8 de março: Mais do que uma data meramente comercial, o Dia Internacional da Mulher é um marco na luta feminina por igualdade de direitos e oportunidades
Distribuição de rosas, chocolates e um dia de piadinhas sem graça: “Hoje é dia das mulheres e o dos homens é todos os outros dias do ano” (sic). Longe do seu significado, o 8 de março passou a ser tratado como data meramente simbólica e um nicho de mercado.
A revolução provocada por mulheres em todo o mundo nas primeiras duas décadas no século passado foi absolutamente desarticulada, em especial nos anos 50 e 60. A origem operária, o conteúdo histórico, político e social do março e da luta feminina pelo reconhecimento da mulher como ser humano, como voz ativa e ente produtivo da sociedade tornou-se quase uma marca d’água nos cadernos escolares.
Nos últimos anos, aos poucos, os diversos coletivos femininos tratam de remontar o verdadeiro significa de março. O resultado mais implícito é o debate cada vez mais aberto e corriqueiro sobre o verdadeiro papel da mulher na construção da sociedade.
Um debate, diga-se de passagem que não deveria ser tão necessário, pois como humanos todos deveriam ter as oportunidades e serem vistos com igualdade. Não se trata de diferenças orgânicas. O papo aqui é outro!
Hoje, o 8 de março é o momento de trazer à tona questionamentos sobre a hipocrisia em torno das homenagens que recebem apenas nessa data. Em todos os dias do ano, o gênero feminino é o principal alvo da violência e da desigualdade.
“A mulher clama a cada dia pela garantia do seu espaço, seja ele no mercado de trabalho, nas lutas sociais, raciais, na política e, inclusive, para fazer valer os direitos já existentes, como a aplicação da Lei Maria da Penha, por exemplo”, lembra a advogada Pátila Vandresen de Souza, de Braço do Norte.
Para ela, o Dia Internacional da Mulher deve ser encarado, sim, como um marco da luta feminina por uma igualdade e dignidade. “É uma data importante, em especial para mostrar às mulheres que entendemos a luta de cada uma, que nos solidarizamos com ela e compreendemos a dificuldade que cada uma passa. Na atualidade, o Dia da Mulher mostra cada vez mais que nós, unidas, podemos ganhar cada vez mais espaço”, valoriza.
Apesar da luta feminina ter avançado, a mulher ainda é preterida no mercado de trabalho, em especial para assumir cargos de liderança, ganha menos que o homem, e ‘incentivada’ para que se torne aquilo que a sociedade encara como o ideal: case-se, torne-se mãe, cuide da casa, seja responsável por educar os filhos.
E engana-se quem acredita que isso ainda é discurso antigo. A luta é a mesma: promover a disruptura de um modelo criado para elas e não por elas. A mulher de hoje quer mostrar para a sociedade, onde predomina o patriarcado (quando o homem é visto como o principal provedor), que uma nova sociedade está eclodindo.
“Passamos de expectadoras para mulheres que quebram ciclos, que dizem ‘chega, não preciso ser ofendida, não preciso ser agredida - seja física, verbal ou emocionalmente -, preciso ser amada’. Quebrando estes ciclos, hoje as mulheres mostram para outras mulheres e para o mundo que é possível fazer, pensar e agir diferente”, destaca Pátila.
Todos os anos, divulga-se a história de que o Dia Internacional da Mulher surgiu em homenagem a 129 operárias estadunidenses de uma fábrica têxtil que morreram carbonizadas, vítimas de um incêndio intencional no dia 8 de março de 1957, em Nova York.
Segundo a versão que circula no senso comum, o crime teria ocorrido em retaliação a uma série de greves e levantes das trabalhadoras. Embora essa seja a narrativa mais conhecida quando se fala sobre a origem da data comemorativa, ela está muito distante do epicentro da verdade.
A história real do 8 de março é totalmente marcada pela história da luta das mulheres operárias, que não desvincula a batalha pelos direitos mais elementares - que, naquele momento, era o voto feminino - da batalha contra o patriarcado.
O primeiro registro remete a 1910. Durante a 2º Conferência Internacional das Mulheres em Copenhague, na Dinamarca, Clara Zetkin, feminista marxista alemã, propôs que as trabalhadoras de todos os países organizassem um dia especial das mulheres, cujo primeiro objetivo seria promover o direito ao voto feminino. A reivindicação também inflamava feministas de outros países, como Estados Unidos e Reino Unido.
No ano seguinte, em 25 de março, ocorreu um incêndio na fábrica Triangle Shirtwaist, em Nova York, que matou 146 trabalhadores - incluindo 125 mulheres, em sua maioria mulheres judias e italianas, entre 13 e 23 anos. Sim, fato idêntico ao imputado ao surgimento da data ocorreu bem antes!
A tragédia fez com que a luta das mulheres operárias estadunidenses, coordenada pelo histórico sindicato International Ladies’ Garment Workers’ Union (em português, União Internacional de Mulheres da Indústria Têxtil), crescesse ainda mais, em defesa de condições dignas de trabalho.
As russas soviéticas também tiveram um papel central no estabelecimento do 8 de março como data comemorativa e de lutas. Por “Pão e paz”, no dia 8 de março de 1917, no calendário ocidental, e 23 de fevereiro no calendário russo, mulheres tecelãs e mulheres familiares de soldados do exército tomaram as ruas de Petrogrado (hoje São Petersburgo).
De fábrica em fábrica, elas convocaram o operariado russo contra a monarquia e pelo fim da participação da Rússia na 1ª Guerra Mundial.
Em 1921, na Conferência Internacional das Mulheres Comunistas, o dia 8 de março foi aceito como dia oficial de lutas, em referência aos acontecimentos de 1917. A data foi reconhecida pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1975.
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