Dezenas de primatas foram avistados mortos sem motivo aparente na região
A mortandade repentina de macacos bugios em áreas de floresta nativa no Vale do Braço do Norte e Encostas da Serra Geral acendeu o alerta. Autoridades sanitárias estão apreensivas com a possibilidade de que um surto de febre amarela esteja atingindo esses animais, o que reforça a necessidade de prevenção por parte da população humana da região.
Nas últimas semanas, o relato de bugios encontrados mortos sem uma explicação evidente - fenômeno que recebe o nome técnico de epizootia - cresceu consideravelmente, especialmente nos municípios de Anitápolis, Santa Rosa de Lima, Rio Fortuna e São Martinho. Técnicos da DIVE (Diretoria de Vigilância Epidemiológica), órgão ligado à Secretaria de Estado da Saúde, têm visitado essas cidades para a coleta de amostras para análise junto ao Lacen (Laboratório Central de Santa Catarina). A estimativa é de que os resultados dos exames estejam prontos no final de março.
Em Rio Fortuna, a coordenadora da Vigilância Epidemiológica do município, Eliane Fregulia, informa que já foram registrados 13 casos de epizootia em bugios nos últimos dias. “É um número acima do normal. Para se ter uma ideia, em todo ano de 2020, foram encontrados apenas cinco exemplares mortos. Nós já coletamos amostras de alguns destes últimos casos e as enviamos ao Lacen, em Florianópolis”, relata.
Na última terça-feira, 2 de março, a bióloga Sabrina Fernandes Cardoso, da Secretaria de Estado da Saúde, esteve no município para avaliar o mais recente caso de epizootia de bugio e coletar material para análise. “Os indícios de que, de fato, esses animais estão sendo acometidos por febre amarela são fortes. Inicialmente, o que chama atenção é a quantidade de avistamentos de indivíduos mortos. Depois, observamos que os bugios mortos eram aparentemente sadios, não possuíam nenhum ferimento grave ou ossos quebrados que pudessem indicar a causa da morte. Somado a isso, já temos a confirmação de que um surto de febre amarela atingiu primatas na Serra Catarinense”, observa a bióloga.
Em Santa Rosa de Lima, o avistamento de bugios mortos tem sido ainda maior. Até o momento foram 15 relatados à Secretaria Municipal de Saúde. Destes, dois tiveram coletadas amostras de tecido para análise do Lacen. Assim como os casos de Rio Fortuna, os resultados devem sair no final do mês. “O que nos chama a atenção é justamente que, nas últimas semanas, a população tem relatado o desaparecimento dos bugios na mata. Os moradores próximos a áreas de floresta não os veem mais nas árvores e nem mesmo ouvem mais o ronco do bugio, o que é sinal de que algo está acontecendo com eles, que estão mesmo morrendo por algum motivo inesperado ou estão se deslocando para outra região”, diz a coordenadora Vigilância Epidemiológica municipal, Vanessa Pacheco.
Já em Braço do Norte, maior município do Vale, foi relatado um caso deepizootia. As equipes de Vigilância Sanitária e de Endemias também monitoram as informações das cidades vizinhas. “Obviamente, estes relatos recentes acendem o alerta aqui no nosso município”, informa a agente de Endemias Cibele da Silva. Grão-Pará também teve uma morte de bugio relatada.
Caso alguém encontre algum primata morto sem razão aparente, deve alertar com urgência a unidade de saúde mais próxima ou a secretaria do município.
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Febre amarela pode se manifestar de duas formas
A febre amarela é uma doença infecciosa causada por um vírus e transmitida por mosquitos. Os principais sintomas são febre, dor muscular, náuseas e vômitos, perda de apetite e fraqueza. Não há um tratamento específico para a doença. Os esforços se concentram no controle dos sintomas e na limitação das complicações, que normalmente passam com o decorrer dos dias.
Há dois tipos básicos de febre amarela: a urbana e a silvestre. É esta última que se suspeita estar atingindo os bugios na região. Neste caso, a doença atinge somente primatas que vivem nas florestas e é transmitida por mosquitos da espécie Haemagogus, comuns nas matas nativas. Quando um ser humano adentra a mata, é picado por algum mosquito com o vírus e volta para casa, aí a doença pode se tornar no tipo urbana. Pois, na cidade, a pessoa poderá ser picada por outro mosquito, especialmente o Aedes aegypti, e assim causar um surto na área urbana.
“Por isso que é muito importante a prevenção. Também é muito importante que não matem os macacos silvestres. Algumas pessoas ficam com medo de que os primatas possam transmitir a febre amarela, mas isso não acontece. Quem transmitem são os mosquitos. E, se não há macacos para eles picarem, pois precisam de sangue para maturar seus ovos, eles vão atrás do ser humano”, destaca a bióloga Sabrina Cardoso, da Secretaria de Estado da Saúde. “Costumamos dizer que os macacos são nossos ‘anjos da guarda’, porque é graças a eles que conseguimos monitorar em quais áreas o vírus da febre amarela está circulando e, assim, estabelecer ou fortalecer uma política de combate e de prevenção à doença”, complementa.
A bióloga lembra ainda que o último caso de febre amarela em ser humano registrado em Santa Catarina foi na década de 1930, o que seria mais uma razão para se monitorar a doença junto aos primatas e, assim, evitar o contágio de pessoas.
A forma mais eficaz de prevenir a febre amarela é através da vacinação. O medicamento faz parte do Programa Nacional de Imunização e está disponível nas unidades de saúde para qualquer pessoa, a partir dos nove meses e até os 59 anos de idade.
Segundo a coordenadora de Vacinação de Braço do Norte, Rosimeri Rohling Ceolin Medeiros, o município apresentou uma cobertura vacinal para a doença de 89% do público alvo em 2020. Neste ano, a vacina segue disponível. “Quem não se vacinou, pode procurar o posto de saúde mais próximo e solicitar a vacina. Quem tomou uma dose, também pode receber o reforço”, afirma.
Da mesma forma acontece nos municípios de Santa Rosa de Lima e Rio Fortuna, onde foram registrados os casos de bugios mortos. Nessas cidades, as doses também estão à disposição de quem ainda não tenha recebido. Em Santa Rosa de Lima, a aplicação ocorre nas terças e quintas-feiras.