Segunda-feira, 18 de agosto de 2025
Braço do Norte
22 °C
14 °C
Fechar [x]
Braço do Norte
22 °C
14 °C
GERAL

Liderar para inspirar: mulheres são potência, mas são minoria

Valneide Exterkoetter, presidente da Cerbranorte Geração, incentiva a participação de lideranças femininas nas cooperativas

Braço do Norte - SC, 09/07/2023 09h31 | Atualizada em 10/07/2023 09h45 | Por: Redação
Valneide é a primeira presidente mulher nos 61 anos da Cooperativa

Não há o que se questionar: a baixa predominância de lideranças femininas não se dá por ineficiência, mas sim por questões culturais. No movimento cooperativista, a representatividade das mulheres nas diretorias caminha a passos lentos. O Dia Internacional das Cooperativas foi celebrado no sábado, dia 1º de julho, e esta é uma das demandas mais eminentes do setor. Conforme os dados mais recentes do Anuário do Cooperativismo Brasileiro, datado de 2021, apenas 20% dos cargos de liderança nas cooperativas são ocupados por mulheres. Até se alcançar a igualdade, ainda há um longo caminho a ser percorrido. Em Braço do Norte, a Cerbranorte Geração se torna exemplo neste sentido, ao ter eleito Valneide Exterkoetter, 55 anos, como presidente.

A fim de incentivar que mais mulheres ocupem cargos de liderança, a Folha do Vale traz uma entrevista com Valneide, que compartilha sua trajetória, sua visão, suas motivações e seus feitos. Ao dar visibilidade a casos de sucesso, é possível ampliar o olhar para a potência feminina e mostrar que a diversidade de gênero não é apenas concebível, mas também imprescindível e urgente.

1 - Por que você decidiu ingressar no cooperativismo?
Valneide:  Sempre fui uma pessoa com iniciativa e muita responsabilidade no que faço. Isto tanto na Gráfica Exterval, empresa que administro, quanto no período em que trabalhei como professora. E foi assim também quando tive a oportunidade de ser a presidente da Associação Empresarial do Vale (Acivale). Acredito que foi por este perfil que fui convidada a fazer parte desse projeto da Cerbranorte e também por ser uma liderança feminina.

2 - Como avalia a participação de mulheres em cargos de liderança no setor cooperativista?
Valneide: Ainda está relativamente pequena a participação do público feminino no setor cooperativista. Em algumas situações, porque a mulher já tem muita responsabilidade no âmbito familiar e ela se omite a assumir novos cargos. Além disso, por ainda ser visto, pela sociedade, como um cargo masculino. Cito, como exemplo, a nossa própria Cerbranorte que, em 61 anos de cooperativa, só agora tem um número expressivo de mulheres participando ativamente dos Conselhos Administrativos. 

Olhando o cenário estadual no segmento de energia, acho que sou a única mulher presidente de uma cooperativa de geração de energia e a própria Federação das Cooperativas de Energia do Estado de Santa Catarina (Fecoerusc) que, aliás, até a presente data, a entidade, por algum motivo alheio ao meu conhecimento, não integrou minha participação em suas reuniões mensais para discutir problemas relacionados ao setor de energia elétrica.

3 - De que forma você acredita que isso reflete nas ações das cooperativas?
Valneide: As mulheres, por seu instinto materno, possuem um olhar mais amplo para o envolvimento do todo. Elas, por sua natureza perspicaz, são capazes de realizar várias atividades ao mesmo tempo. E quanto mais ela treinar estas habilidades, mais visão e sugestões pode propor na construção de uma sociedade melhor, de mais interação e cooperação.

4 - Você busca incentivar outras mulheres a participarem também?
Valneide: Com certeza, incentivo e muito outras mulheres a virem participar. O próprio programa Mulheres Cooperativistas é um movimento que saiu do papel para incentivar a formação de novas líderes, uma vez que somos em torno de 8 mil associadas da Cerbranorte.

5 - De quais iniciativas mais se orgulha frente à Cerbranorte?
Valneide:  Não sei se é orgulho ou “loucura”, mas ser a primeira mulher em 61 anos de cooperativa é um grande passo. Tenho uma grande satisfação em liderar o Conselho Administrativo da Geração, onde, pela primeira vez, priorizamos cumprir o estatuto e devolver o lucro da PCH Capivari para o associado em faturas de energia. Além disso, ajudar a comunidade através de vários projetos sociais; iniciar, junto com a Cerbranorte Distribuição, o movimento Cerbranorte na Comunidade; proporcionar aos funcionários e, futuramente aos associados, a visita técnica à usina PCH Capivari, levando, assim, conhecimento.

6 - De que forma a sua experiência como empreendedora contribui para a sua atuação na Cerbranorte?
Valneide: Desde criança, sempre fui muito curiosa e questionadora, apesar da minha timidez. Quando montei a Gráfica Exterval, tive que colocar em prática tudo o que vivenciei e o que lia em livros e artigos. Esta capacidade de me adaptar ao novo e diferente enriqueceu minha habilidade de gerir pessoas. E empreender é, além de toda a estrutura física e material, a habilidade de ouvir e gerenciar pessoas, de tomar iniciativas, de questionar ações e atitudes, provocando na outra pessoa a habilidade da mudança. Estar como presidente da Cerbranorte Geração me provoca a colocar em prática tudo isso e ainda a desenvolver novas habilidades.

7 - Como faz para conciliar todas as funções, tanto pessoais quanto profissionais?
Valneide: Só conheço um jeito: acordar cedo; ser organizada, disciplinada e objetiva; ter uma equipe competente e que realmente vista a camisa para fazer o melhor.

8 - Você também já participou, de forma voluntária, da Acivale e do Hospital Santa Teresinha. O que te motiva a se envolver em causas sociais?
Valneide: Somos seres espirituais em uma experiência humana, então acredito que viemos para aprender, evoluir e, principalmente, conviver em harmonia na sociedade. Para que haja esta harmonia e equilíbrio, precisamos fazer nossa parte neste processo. Acredito numa sociedade mais humana com respeito às individualidades. Como não posso mudar o mundo, mas posso mudar o “meu” mundo, sigo na esperança de que, através do meu exemplo, possa inspirar outras pessoas a fazerem o seu melhor.

9 - Qual o principal desafio que você encontrou frente à gestão da Cerbranorte?
Valneide: Desafio? Gente, esta palavra chega a dar arrepio (risos). Sou uma pessoa movida por desafios e, quando não os tenho, os busco (risos). Acredito que implantar o verdadeiro sentido do cooperativismo dentro de uma cooperativa já é um grande desafio.

 

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

A união da energia feminina  em prol de um bem comum

 

As mulheres que fazem parte das diretorias da Cerbranorte almejam por em prática o cooperativismo em sua essência

 

Representantes femininas da Geração e Distribuição  defendem a presença da mulher no cooperativismo

 

“Quando uma mulher associada se movimenta, todas as mulheres cooperativistas geram e distribuem energia para construir um mundo melhor”. Esta frase é levada ao pé da letra pelas cinco mulheres que fazem parte das diretorias da Cerbranorte Distribuição e da Cerbranorte Geração, cuja posse se deu em 2021. Em comum, elas possuem a vontade de promover transformações positivas e isto é o que dá significado ao trabalho por elas desenvolvido. “O objetivo principal é construir um projeto completo de gestão em prol do verdadeiro cooperativismo, tendo a oportunidade de participar e contribuir efetivamente”, pontua Márcia Pereira, 38 anos, graduada em Biomedicina e conselheira administrativa da Cerbranorte Distribuição.

Além das transformações externas, a advogada Laisy Vieira, 34 anos, que ocupa o cargo de secretária no Conselho Administrativo da Cerbranorte Distribuição, acredita que esta função contribui também para o seu desenvolvimento pessoal. “Eu aprendi em casa, com minha família, que devemos aproveitar as oportunidades que aparecem na nossa vida. E foi por isso que aceitei fazer parte da gestão da Cerbranorte. Era uma oportunidade de aprendizado e de fazer algo pela comunidade”, avalia. Francisca Leonel da Silva, a “Kinha”, de 66 anos, assistente social aposentada, viu no cooperativismo a oportunidade de seguir cumprindo seu propósito. “Como profissional da área de Serviço Social, sempre estive ao lado das lutas sociais na defesa e na promoção dos direitos e das liberdades democráticas da comunidade, não somente no atendimento às demandas imediatas da população usuária, mas também no diálogo e no trabalho de base com as pessoas, atuando nas mais diversas políticas públicas”, declara.

Ela conta que, desde muito cedo, participava de movimentos sociais, pois sempre se interessou pela construção coletiva e pela luta por aquilo que acredita. “O movimento cooperativista sempre me chamou atenção como uma porta aberta para a construção de projetos para a efetivação da melhoria da qualidade das condições de vida e a superação das desigualdades sociais. Como membro do Conselho de Administração, tenho a oportunidade de construir junto o projeto de cooperativismo que idealizamos”. Já Eliana Pereira de Souza Soethe, 41 anos, secretária do Conselho Administrativo da Cerbranorte Distribuição, ingressou no cooperativismo por acreditar no projeto. “Decidi participar devido ao convite do presidente Mayco Niehues. Como se tratava de uma campanha com intuito não político e sim de uma gestão administrativa de verdade, voltada para os associados, o convite foi aceito”, detalha Eliana.

Este objetivo não foi apenas o que motivou Eliana no início, mas também é nisso que ela pauta a sua atuação. “Trabalho sempre buscando alcançar o resultado que o associado espera, sendo transparente, deliberando os recursos como se fosse o próprio associado. Como também sou associada, fica fácil pensar assim. Mas, na prática, a luta é grande e diária contra um sistema que era todo baseado na troca de favores, todo politizado. Atuamos com respeito ao dinheiro de cada associado”, observa. Marcia acredita que a atuação frente à cooperativa deve ser baseada em três valores principais: responsabilidade, comprometimento e transparência. Layse, por sua vez, acrescenta, às colocações de suas colegas, a busca por conhecimentos específicos. “Procurei me aprofundar no estatuto da Cerbranorte, conhecer os princípios do cooperativismo e escutar as demandas dos associados. A partir daí é que eu pauto minha atuação de maneira participativa, ética e de associado para associado”, explica.

A marca deixada pela participação feminina

Além de apaixonadas pelo cooperativismo, todas são entusiastas também da ampliação da participação feminina neste setor. “A presença da mulher é enriquecedora e sua representatividade aumenta o alcance na construção de importantes objetivos primordiais para toda a sociedade. Por meio das minhas ações, procuro contribuir ao motivar que mais mulheres se tornem protagonistas, assumindo posições para engrandecer ainda mais as decisões que impactam a vida de todos”, defende Márcia. Para Kinha, uma maior participação das mulheres nas tomadas de decisão faz parte de uma gestão mais democrática. “Dados do setor comercial revelam que 31,36% são associadas, ou seja, quase 9 mil mulheres representam o movimento cooperativista de Braço do Norte e Rio Fortuna. Deste total, apenas 5 mulheres representam a força feminina dentro das duas diretorias (Cerbranorte Distribuição e Geração Cerbranorte)”, aponta Francisca Leonel.

Apesar disso, ela celebra o fato de a mudança de mentalidade e realidade já ter iniciado. “Precisamos reconhecer e valorizar o início de uma nova história que começou a ser escrita nesta gestão (2021-2025). E, aqui, vale o reconhecimento de uma grande mulher que está na ponta como administradora: Valneide Exterkoetter, nossa líder cooperativista que, com seu grande time, vem conquistando a confiança e o espaço de uma gestão bem-sucedida”. Outro fator que corrobora para esta transformação e a realização de ações junto às associadas, tal como o programa Mulheres Cooperativistas, que conta com a participação de aproximadamente 40 mulheres. “O objetivo é trabalhar intensamente a realidade da mulher nas áreas de atuação da Cerbranorte, fortalecer e ampliar os resultados do empoderamento feminino, além de focar a nossa participação no processo de escolha para ampliar a representatividade no sistema cooperativista e aumentar as estatísticas”, detalha Kinha.

Ainda de acordo Francisca, é importante que os benefícios da inclusão de mais mulheres nas tomadas de decisão sejam observados na prática e não por meio de um discurso arbitrário. “Acreditamos que o papel da mulher no cooperativismo faz a diferença, mas este é um espaço que pretendemos conquistar não pela força ou imposição, mas demonstrado nosso valor, fazendo as coisas que os homens fazem, mas com o toque e o jeito feminino”, defende. De acordo com Laisy, a representatividade feminina promove identificação e faz com que mais mulheres se percebam aptas a ocupar cargos de liderança. “Vejo que isso alimenta o bem-estar e a autoestima das mulheres que já são associadas ou que um dia serão. É sobre se sentir capaz de também estar naquele mesmo lugar, em que outros sinônimos também estiveram. É por isso que, pensado na continuidade da gestão da cooperativa, incentivo que outras mulheres também façam parte”.

Para além disso, é importante que se ressalte as múltiplas habilidades que as mulheres carregam. “Mulher é mãe, administra um lar e administra conflitos como ninguém. Dificilmente, mulheres desistem de alguma batalha. Elas fazem milhões de tarefas ao mesmo tempo. Não desmerecendo a masculinidade, mas conseguimos ver todos os ângulos e entender muitas demandas que só um olhar feminino enxerga. Não podemos deixar a semente plantada sem florir. Sendo assim, incentivo sempre o envolvimento de outras mulheres”, argumenta Eliana.

 

Folha do Vale

Rua Manoel Neves, 470, Bairro Tiradentes, Gravatal, CEP: 88.735-000 - Santa Catarina.

Folha do Vale © Todos os direitos reservados.
Demand Tecnologia
WhatsApp

Utilizamos cookies para oferecer melhor experiência, melhorar o desempenho, analisar como você interage em nosso site e personalizar conteúdo. Ao utilizar este site, você concorda com o uso de cookies.

Ok, entendi!