Natural de São Ludgero, piloto estreou na equipe da Yamaha durante o maior rally das Américas
Natural de São Ludgero, o piloto Gabriel Bruning sagrou-se campeão do Sertões 2023 na categoria Moto 2 e vice-campeão da Geral, sendo o melhor brasileiro da competição. O primeiro contato do atleta com a Yamaha foi em 2021. Desde então, ele vinha recebendo apoio. Neste ano, foi a estreia na equipe oficial da marca e, felizmente, ele obteve um excelente desempenho. O Sertões BRB 2023 foi composto por um prólogo e oito etapas, entre os dias 11 e 19 de agosto, ligando Petrolina (PE) à Praia do Preá, em Cruz (CE). Ao todo, foram por volta de 3.800 quilômetros percorridos, com pernoites na própria Petrolina; em Xique-Xique (BA); Crato, Sobral e Cruz (CE). A 31ª edição da competição contou com a participação de mais de 300 competidores.
Em entrevista à Folha do Vale, o atleta compartilha sobre sua trajetória, os desafios, os preparativos e a experiência de participar do maior rally das Américas, alcançando resultados surpreendentes. Confira!
Como você se interessou pelo rally e o que o inspirou a se tornar um piloto profissional? Gabriel: Eu vinha fazendo provas de Enduro. Ou seja, outra modalidade, que ocorre em trilhas e não em estradas como o Rally, em deserto. Antes disso, tinha uma vida de atleta. Eu era jogador e, quando parei, com 19 para 20 anos, continuei andando de moto e bicicleta. Meu pai também foi uma inspiração. Ele sempre andou de moto e foi um cara dedicado. Então, minha maior inspiração estava em casa.
Como foi o seu primeiro contato com o mundo das competições de Rally? Gabriel: Desde pequeno, lembro do meu pai assinar revista. Por conta disso, esse contato com o universo das motos existe desde sempre. O Rally sempre foi um sonho. Eu via em vídeos, filmes e revistas. Em 2021, surgiu o convite da Yamaha e foi o meu primeiro contato com competições. Foi em Tocantins, no deserto do Jalapão. Foram cinco dias de prova. Felizmente, fiz bons dias lá. A experiência foi fenomenal, melhor do que o esperado. Este foi o meu primeiro ano como piloto oficial da Yamaha, mas já fazem dois anos que tenho auxílio da marca. Eles têm um projeto no qual recrutam pilotos que estão iniciando, como se fosse uma categoria de base, e oferecem apoio.
Quais foram os desafios que você enfrentou no início de sua carreira e como superou? Gabriel: Todo esporte a motor é muito caro. A maior dificuldade para nós pilotos, seja de moto ou carro, é a manutenção dos equipamentos. Então, a questão financeira e de patrocínios é a mais desafiadora. É difícil mantermos os treinos, os custos e ter tempo de conciliar as nossas coisas juntamente com o Rally. Quando nos tornamos atletas, precisamos nos dedicar muito e deixar muita coisa para trás. Dedicamos muito tempo treinando, com equipamentos, acerto de moto. Precisamos alinhar cabeça, corpo e moto para que tudo se torne uma coisa só.
Qual foi o momento mais decisivo neste caminho? Gabriel: Um dos momentos mais marcantes foi a decisão de deixar o Enduro para ir para o Rally. O Enduro é uma maneira de andar, que é técnica, raiz, pedra. E o Rally é totalmente diferente, é muita velocidade. Até tomar essa decisão, isso ficou martelando muito na cabeça, mas hoje, com certeza, posso dizer que valeu a pena.
O que significa para você representar uma marca como a Yamaha? De que forma isso influencia sua carreira? Gabriel: Representar a Yamaha é representar a maior marca do Brasil de moto. Ela é mundialmente conhecida por ser muito vitoriosa, com inúmeros títulos nas maiores competições de Rally do mundo, no MotoGP, que é no asfalto, ou no motocross. De todas as formas, ela é muito grande. Por isso, é muito importante para mim e para todas as pessoas que torcem por mim, porque é a confirmação de que o trabalho valeu a pena. Agora, é manter este trabalho profissional que venho realizando este ano e que deu resultado. Vamos ajustar algumas coisas para melhorar e crescer.
Como foi a sua preparação para o Sertões 2023, tanto fisicamente quanto mentalmente? Gabriel: A preparação para os Sertões precisa ser cuidadosa. É necessária uma atenção especial. A gente vinha o ano todo trabalhando para chegar bem. Normalmente, é a última etapa do Campeonato Brasileiro, de cinco provas. Nós viemos ajustamos a moto, o corpo, a estratégia, o pneu. Quando chegamos neste momento, tudo precisa estar alinhado, físico e mentalmente. Há todo um trabalho por trás que não é mostrado, mas que envolve muita preparação com profissionais, tais como nutricionista, fisioterapia e mecânico, por exemplo, para chegar na hora e estar tudo afiado. Há muita coisa envolvida.
Qual a diferença entre as categorias Moto 1, Moto 2 e Moto 3? Gabriel: A categoria Moto 1 tem várias adaptações, como motor, suspensão e outros acessórios. A Moto 2, que é a que eu participo, é com a moto 100% original de fábrica, não há auxílio de motor e suspensão adaptados. A Moto 3 é como se fosse uma categoria de estreantes, para novatos. Tendo isso em vista, o resultado se torna ainda mais positivo, tendo em vista que, na somatória dos tempos, fiquei em 2º lugar na Geral, disputando com todas as motos, inclusive as adaptadas.
Como você descreveria a sua participação na competição e a sensação de alcançar o título de campeão da categoria Moto 2 e de vice-campeão da geral? Gabriel: Foi um rally muito bom, mas duro, com especiais muito difíceis. O início já foi bem complicado, comecei com o 10º na Geral do Prólogo, mas fui escalando. Fiz um sexto lugar, um quinto, terceiro, terceiro, segundo, segundo e primeiro. Então foi um Rally de evolução pra mim. Eu fui botando o ritmo, imprimindo um ritmo mais forte a cada dia. Estou muito contente com essa minha pilotagem e a evolução. A sensação é de dever cumprido por saber que dei o meu melhor e que fiz uma pilotagem segura, sem erros, sem problemas de moto ou com navegação. Uma prova limpa e com este resultado que me deixou muito feliz. Agora, é aproveitar para voltarmos mais fortes ainda no ano que vem.
Quais são seus objetivos e metas futuras no Rally? Gabriel: Para o ano que vem, a meta é melhorar o resultado na Geral. É claro que o sonho é vencer os Sertões, mas a gente precisa ser realista e saber que há muitos pilotos rápidos e que precisamos trabalhar o ano inteiro para sair com a vitória não só nos Sertões, mas no Campeonato Brasileiro de Rally.
Como você lida com a pressão e as expectativas que cercam o universo das competições? Gabriel: Eu gosto disso e, por isso, lido muito bem. O frio na barriga é o que me motiva e, quando sei que não está perto de realizar uma prova, até me desanima um pouco. O que me move são as provas, as competições e ouvir o “três, dois, um, vai!”. Isso, para mim, é impagável. Eu, minha moto e enrolar o cabo... é a melhor coisa.
Qual conselho daria a quem deseja se tornar piloto de Rally profissional? Gabriel: A gente precisa entender que o Rally é grande. Então, precisamos começar com competições menores. Primeiro, o Enduro regional. Depois, o estadual. Somente então iniciar no Rally, porque exige muito do piloto, envolve muito a parte física e necessita de um estudo para que a moto esteja bem alinhada. Diferentemente de outras modalidades, em que a moto é “crua”, nós temos outras adaptações, como dois tanques auxiliares; amortecedor de guidão; a parte da navegação, que vai um mapa, um odômetro; o banco e a suspensão são diferentes... Primeiro, é preciso ter certeza de que é isso que se quer, batalhar muito e ajustar tudo para chegar no Rally com a melhor mentalidade, com o melhor equipamento e bem consigo mesmo.
Existe alguma mensagem que gostaria de compartilhar? Gabriel: Quero agradecer à minha família e à minha esposa me ajudaram muito neste ano. E também aos meus amigos e a todos que acompanham e torcem por mim, que me deixaram mensagens. Quero que saibam que fico feliz por receber este apoio, isso faz toda diferença. E, é claro, não posso deixar de agradecer os patrocinadores, que tornam possível este sonho. Além da Yamaha, a IMS Racing, Borilli Racing, Chapam Motopeças, nutricionista Fábio Bianco, Cuthelo Racing e LB Training.