A vontade de ocupar a mente e o corpo nos momentos de ociosidade e, de certa forma, reforçar o orçamento familiar, levou a empresária Cassiani da Cruz Silva Pereira, de 43 anos, a transformar o passatempo em uma divertida experiência. Há quase um ano ela desenvolve o amigorumi, uma técnica japonesa para criar pequenos bonecos feitos de crochê ou tricô.
Cassiani é proprietária de uma verdureira no Centro de Braço do Norte. No dia 20 de maio de 2020, acompanhava os números da covid na cidade, que registravam dois óbitos e dois doentes. Haviam quatro internados no Hospital Santa Teresinha. Tudo era novidade, pois fazia dois meses que o primeiro caso havia sido registrado no município. Com o movimento fraco em seu estabelecimento comercial, localizado na esquina da Avenida Felipe Schimdt com a Rua Raulino Horns, decidiu pôr em prática seu talento no crochê e passou a bordar algumas toalhas enquanto aguardava a clientela.
“A professora Silvana Niehues me viu fazendo o crochê e me perguntou porque eu não fazia amigorumi. Eu disse que não sabia o que era e, então, ela me explicou que era a criação de bonecos feitos com a mesma técnica”. Quando chegou em casa, Cassiani pediu para a filha, Karini, 24 anos, procurar na internet um tutorial. No mesmo momento começou a trançar um ursinho Coala, que deu de presente para o filho Matheus, de 18 anos.
Como Cassiani faz seus amigorumis durante o período de folga, não sabe exatamente o tempo que leva para terminar cada boneco, mas, acredita, que, dependendo da complexidade, leva duas semanas para fazer cada trabalho. “Os clientes olham aqui no balcão, ficam curiosos e fazem os pedidos”. A empresária não sabe, ao certo, o número de bonecos que já confeccionou, mas passam, seguramente, de 30.
Entre os trabalhos que mais gostou de fazer estão o Harry Potter, Naruto, Chapeleiro Maluco e o Pikachu. “Alguns personagens, depois da encomenda, tive que ir atrás. Pois nunca tinha ouvido falar. Como a Coraline Jones, do desenho de suspense infantil, e a personagem da série Anne with an E”. Cassiane confessa que, no caso da Anne, foi uma grata satisfação, pois assistiu a série fazendo a bonequinha ruiva. “Antes eu fazia os bonecos para depois ver o filme ou a série. Nesse caso, fiz o contrário e foi muito divertido”.
Cassiani revela que a maioria dos pedidos é para presentear alguma criança, mas tem um monte de adulto que está encomendando para decorar o ambiente. Os preços dos bonecos variam de R$ 50,00 a R$ 150,00, dependendo do modelo.
A empresária aprendeu a tecer os fios quando tinha 12 anos com a mãe, Celestina. A família é moradora até os dias de hoje do Sertão do Rio Bonito. Na década de 1990, plantavam fumo. Como de costume, sobravam muitas linhas dos barbantes usados para amarrar a planta. Então, ela e a mãe reciclavam esse material. Recolhiam e desmanchavam o emaranhado de fios e faziam o crochê. Depois de trançados com o auxílio da agulha, lavados e tingidos, se transformavam em belos tapetes e toalhas de mesa.
Celestina parou de bordar as toalhas e fazer suas rendas quando o fumo deixou de ser plantado. “Nós não tínhamos dinheiro nem pra comprar os fios e o bordado que fazíamos era para nosso próprio uso. O pouco que vendíamos era para ajudar nas despesas da casa. Não sobrava mais nada para reinvestir”, recorda Cassiani. A empresária só voltaria a fazer tricô por volta dos 23 anos, quando casou. “Com poucas condições, fiz boa parte do meu enxoval. As toalhas de louças, tapetes, tudo com muito capricho”, recorda. “Estes mesmos produtos eram feitos também para presentear amigos e parentes nos aniversários”.
Depois que Cassiani voltou a fazer o crochê de bonecos, dona Celestina, aos 69 anos, também teve coragem de pegar na agulha e arriscar alguns pontos, desta vez, ensinados pela filha. “Como moramos perto uma da outra, ficou fácil pra gente trocar umas ideias e não demorou muito para ela se empolgar”, diz orgulhosa. “Ela está fazendo algumas flores e está ficando muito bonito”, encoraja. A filha Karini também está contagiada. “Ela está começando agora e já arrisca uns bonecos. Se tiver força de vontade, qualquer um consegue com um pouco de talento”, incentiva.
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É uma técnica japonesa para criar bonecos feitos de crochê. A origem do termo vem da contração de duas palavras: “ami”mono, que quer dizer crochê ou tricô, e nui“gurumi”, que significa brinquedo de pelúcia. Originalmente, os amigurumis eram bonecos feitos de crochê com no máximo 15 centímetros, eles não tinham feição ou tinham apenas olhos, eram um tipo de brinquedo antropomórfico, onde as crianças devem criar identificação e imaginar rostinhos felizes, tristes, etc… sem serem induzidas pelos rostos já pintados das bonecas tradicionais.
Na década de 80, lá no Japão, um amigurumi da paixão nacional, a Hello Kitty, fez com que a técnica voltasse a ser lembrada, conquistou o mundo e, hoje em dia, o céu é o limite para o que se pode criar a partir desta técnica incrível!