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Da produção ao consumidor: os números da suinocultura

21/04/2020 18h50 | Atualizada em 08/05/2020 11h54

Folha do Vale faz um levantamento, quanto o suinocultor investe para produzir até o preço final que a carne é vendida ao consumidor

Um suíno vivo de 100 quilos vendido nesta terça-feira, 21 de abril, pelo produtor para o frigorífico por R$ 320,00, chega, em peças, às prateleiras dos supermercados por um preço médio de R$ 761,00.

O levantamento realizado esta semana pela reportagem da Folha do Vale tem como base o preço pago ao suinocultor independente. Nossa reportagem aferiu o preço dos cortes de três frigoríficos do município e por quanto são vendidos em seis supermercados: três em Braço do Norte e outros três em Tubarão na última segunda-feira.

Para realizar a pesquisa, nossa reportagem se baseou no material técnico da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em que destaca o desempenho e características de carcaça e da carne de suínos, dependendo da raça, dos 35 aos 100 quilos de peso vivo. A pesquisa revela que estes animais têm mais de 50% de rendimento de carne. Se levarmos em consideração um animal de 100 quilos, produzido em nossa região, podemos assegurar que tem, 18 quilos de pernil e 12 quilos de paleta, ambas sem pelo e osso. São mais 7 quilos de lombo e 3 quilos de copa. Outros 6 quilos de costela (com osso) e mais 3 quilos de barrigueira. São quase 50 quilos de carne nos cortes básicos. Produz ainda, em média, 8 quilos de banha.

Solicitamos aos frigoríficos e aos supermercados da região o preço de venda destes cortes. Entre os abatedouros de Braço do Norte a diferença no valor é pequena. Em alguns produtos, apenas centavos. Diferente da venda nos mercados, que o preço chega a dobrar na comparação entre eles. Outra curiosidade é o fato de um mesmo mercado ter um preço mais alto em um corte e o mais barato em outro.

O suíno de 100 quilos que chega aos frigoríficos por R$ 320,00 é vendido aos supermercados, depois de beneficiadas as partes, por R$ 499,40, ou seja 56% a mais. Ao chegar nos mercados os cortes são vendidos aos consumidores finais com um acréscimo médio 59,5%, de margem bruta.

Algumas carnes são mais valorizadas e chegam a ultrapassar mais de 75% de acréscimo, como a barrigueira, seguido da costela (68%) e do lombo (67%). Quem tem o menor reajuste é justamente o pernil, com 37% majoração no preço de venda. Se somadas todas as partes, o suíno adquirido por R$ 499,40 é vendido a R$ 761,00. São R$ 261,60 a mais.

Estoque antigo x concorrência

Para boa parte dos proprietários de frigoríficos ouvidos o preço pago pelos supermercados neste momento dificulta o repasse ao produtor. “Sabemos que o produtor está no prejuízo, mas estamos trabalhando no limite”. Garante o dono de um abatedouro de Braço do Norte. Diz que os mercados sabem que os fornecedores estão com os estoques cheios, mesmo assim, não abaixam o preço ao consumidor final. “A margem dos mercados é atraente, porém, se houvesse uma redução dos preços seria mais atrativo ao consumidor, aumentando o giro no consumidor final. Poderiam passar isso ao consumidor, nos dando condições de pagar melhor o suinocultor”, acrescenta.

Os representantes dos supermercados, por sua vez, lembram que o preço nos mercados vem caindo, assim como no ramo de combustíveis em que o estoque tem que ser renovado para que o preço seja modificado, a maioria ainda trabalha com carnes adquiridas há algumas semanas. “Temos também os custos fixos com aluguel, funcionários, enfim, a estrutura para manter o mercado em funcionamento. Eles são calculados mensalmente e repassado para o custo dos produtos. Não é simplesmente baixar o valor. Tem que saber o que este preço representa no fechamento das contas”, alerta um supermercadista. “Mas, com certeza, assim como está acontecendo com os frigoríficos, que estão baixando o preço para garantir suas vendas, o setor supermercadista, sejam eles mercados ou atacados, também está baixando o preço para garantir a venda aos seus consumidores. Ninguém segura a concorrência”, garante preços menores.

Sobe o custos de produção de suínos: Prejuízo nas granjas

Acumulando 4,17% e 2,96%, respectivamente, na comparação com fevereiro, os custos de produção de frangos de corte e de suínos calculados pela Central de Inteligência de Aves e Suínos da Embrapa (CIAs) apresentaram uma forte alta. Os índices de custos de produção foram criados em 2011 pela equipe de socioeconomia da Embrapa Suínos e Aves e Conab.

O custo por quilo vivo de suíno produzido em sistema de ciclo completo em Santa Catarina passou dos R$ 4,32 em fevereiro para R$ 4,44 em março, igualando o maior valor já registrado pelo índice, em junho de 2016.

Evandro Heidemann tem uma pequena integração no Pinheiral. Ele engorda cerca de 1.300 animais por mês. “Pego os leitões de três produtores e engordo. O custo médio para entregar o suíno para o abate é de R$ 4,40 a R$ 4,50 o quilo. Hoje entreguei o porco a R$ 3,20”, lamenta o produtor. Ele explica que os insumos como milho e a soja, continuam sendo os vilões.

Evandro frisa que o preço começou a cair assim que a pandemia do Covid-19 foi anunciada. “Em 40 dias o preço pago pelo suíno vivo despencou R$ 2,30 o quilo. Os custos nesse meio tempo subiram. Estou tendo um prejuízo de mais de R$ 100 por animal”, relata.

O criador está mantendo ainda a engorda. “Não tenho como parar. Assumi o compromisso com os produtores que tem as matrizes”. Para ele a solução para voltar o preço antigo é deixar o povo trabalhar. “Voltando as atividades no comércio e na indústria, as fábricas vão produzir, as lojas vão vender e o povo vai ter dinheiro para consumir mais”, defende. Quanto a redução no preço nas prateleiras dos supermercados, o Evandro não acredita que possa ajudar a solucionar o problema no campo. Se baixarem lá no mercado, vão querer pagar menos para o frigorífico e este vai pagar ainda menos para nós, produtores, que somos sempre o elo mais fraco.

Qual o futuro da suinocultura?

Segundo Adir Engel (foto), secretário de Agricultura do município de Braço do Norte e também membro da diretoria da ACCS (Associação Catarinense dos Criadores de Suínos) Regional Sul, o município tem 140 propriedades com suinocultura e também 27 estabelecimentos que abatem ou só industrializam carne suína. “Abatemos no município 380 mil suínos por ano. São 35 mil matrizes produzindo leitões ou suínos terminados. Temos 41 propriedades na integração produzindo leitões, 72 propriedades que fazem ciclo completo e mais 27 que fazem apenas a engorda”, detalha o que representa em números a produção local.

“Podemos dizer que só de suínos terminados Braço do Norte produz quase 40 mil animais. Uma diferença de R$ 2,00 em quilos, significa R$ 8 milhões a menos de giro em um mês. Realmente são números significativos”, avalia.

“O produtor independente não aguenta outra crise. Ele ainda não pagou as contas da última. Situações assim desanimam o produtor e ele se sente obrigado a se integrar em alguma empresa para produzir leitões, pois não precisa bancar os custos”, acrescenta o secretário. “A pergunta que fica é: onde daqui algum tempo nossos frigoríficos vão achar matéria prima para tocar seu negócio? Vão fazer mini integrações ou vão buscar em outras regiões? Situação bem difícil”, lamenta Engel.

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