Imigrante recebeu ajuda da comunidade para reencontrar os filhos, que recentemente perderam o pai
Gerna Martine, 45 anos, a haitiana estabelecida em Braço do Norte que busca reencontrar seus três filhos, que ainda moram no país caribenho, conta os dias. Neste domingo, dia 31, após a missa das 19 horas na Igreja Matriz, a Paróquia Nosso Senhor do Bonfim realizará o sorteio da rifa organizada para angariar recursos para trazê-los ao Brasil.
O dinheiro necessário para as passagens, cerca de R$ 15 mil, e outras despesas já foi conseguido. Fagine Jean Baptiste, 10 anos; Lourdjina Cleophap, 13 anos; e James Jerson Cleophap, 15 anos, agora aguardam os trâmites burocráticos para poderem, finalmente, reencontrar a mãe. “Neste momento, estão sendo resolvidas algumas questões de documentação e autorização para essas crianças virem ao Brasil. Com a ajuda voluntária de um escritório de advocacia, estamos em contato com a Embaixada Brasileira no Haiti para providenciarmos os passaportes e os vistos de entrada”, informa o padre Pedro Paulo das Neves, que mobilizou a comunidade pela causa de Gerna e celebrará a missa deste domingo.
O drama de Gerna Marine foi contado pela Folha do Vale em outubro. Assim como aconteceu com milhares de seus conterrâneos, que enfrentam muitas dificuldades, principalmente depois do terremoto que devastou o Haiti em 2010, ela veio para ao Brasil em busca de uma vida melhor. Para trás, deixou o marido e os três filhos, na esperança de reencontrá-los em breve.
Está a pouco mais de três anos no País e foi mais recentemente que se estabeleceu em Braço do Norte, onde conseguiu emprego e moradia. Os planos pareciam estar dando certo para Gerna, porém, tragicamente, seu marido adoeceu e faleceu. Os filhos ficaram aos cuidados da avó materna, mas ela não tem condições de cuidar das crianças. “Foi ao saber da situação, que resolvemos buscar ajuda. Pois sabemos que as crianças lá no Haiti enfrentam extremas adversidades”, ressalta padre Pedro.
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Gerna, atualmente, mora no bairro São Basílio e trabalha na fábrica de utensílios esmaltados Ewel. Ela ainda tem dificuldade para se comunicar em português. Consegue entender algumas palavras, mas não sabe se expressar bem. Para se fazer entender, conta com a ajuda de amigos e parentes haitianos que também moram em Braço do Norte e que já falam a língua portuguesa com maior desenvoltura. Ela afirma ter muitas saudades dos filhos, que anseia tê-los com ela para que, no Brasil, possam ter melhores condições para viver.
Segundo o padre Pedro Paulo das Neves, o dinheiro arrecadado com a rifa, somando à ajuda de outras doações da comunidade, é mais que suficiente para arcar com as despesas da viagem das crianças. “Segundo informações que temos, o preço de cada passagem do Haiti para o Brasil é cerca de R$ 5 mil. A comunidade toda contribuiu e conseguimos vender todas as cartelas. Temos recursos suficientes para as passagens e um pouco mais”, relata o sacerdote.
A missa que precede a premiação será uma celebração especial. Além dos paroquianos habituais, é esperada a presença de integrantes da comunidade haitiana e também de refugiados e imigrantes de outros países. Logo após a cerimônia, será realizado o sorteio. Na premiação, uma TV de 32 polegadas para o primeiro prêmio; uma garrafa térmica para o segundo prêmio; um liquidificador no terceiro prêmio; e uma cesta de produtos de limpeza no quarto prêmio. “O dinheiro que sobrar das passagens e dos demais custos para a viagem dos filhos de Gerna deverá ser utilizado para continuarmos a atender as crianças assim que chegarem em Braço do Norte”, afirma Padre Pedro.
“Nós temos que ver também como essas crianças vão se adaptar assim que chegarem aqui. Teremos que saber se elas necessitarão de algo mais, como medicamentos e roupas. Como elas vão ingressar na escola e tudo mais. Além disso, há toda uma comunidade de imigrantes aqui em Braço do Norte com pessoas que também demandam a nossa atenção. Não se trata apenas do caso de Gerna e seus filhos. Mas temos aqui, somente na nossa cidade, mais de 300, talvez beirando os 400, imigrantes haitianos, e muitos deles precisam da nossa ajuda para se estabelecerem”, argumenta o Pároco.
A história do Haiti é marcada por uma série de governos ditatoriais e golpes de estado. Na atualidade, a população presencia uma guerra civil e muitos problemas socioeconômicos. É o país economicamente mais pobre das américas. Cerca de 80% da população vive na mais absoluta miséria e 60% das pessoas é subnutrida.
No dia 12 de janeiro de 2010, a situação ficou ainda pior quando um terremoto de magnitude 7,0 na escala Richter atingiu o país. Mais da metade das construções vieram ao chão, inclusive o palácio presidencial da capital, Porto Príncipe.
Mais de 250 mil pessoas ficaram feridas, 1,5 milhão de habitantes ficaram desabrigados e o número de mortos ultrapassou 200 mil. O fenômeno no Haiti é o maior desastre que a ONU (Organização das Nações Unidas) já enfrentou em sua história.
Dos mais de 30 mil haitianos que cruzaram a fronteira brasileira nos últimos anos, segundo o governo do Acre, principal acesso ao Brasil. A maior parte foi acolhida em São Paulo ou nos estados do Sul, principalmente no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina.