O sol se exibindo lá fora e o céu convidava a viver. Se eu disser que acordei triste, que foi difícil sair da cama, mesmo sabendo das muitas coisas a fazer e das decisões a tomar? Triste e sem vontade de fazer as coisas simples da vida, aquelas coisas que a gente faz sem prestar atenção no que está sentindo.
Se eu disser que hoje não foi um dia como qualquer outro? Hoje, levantei devagar e tarde, não tive vontade de nada. Você vai reagir como? Minha mãe falaria “te anima”. Amigos iriam recomendar antidepressivos. Outros diriam que há pessoas vivendo coisas graves muito mais graves (mesmo desconhecendo a razão da minha tristeza). Alguns vão dizer para colocar roupa leve, ouvir uma música revigorante e voltar a ser aquele que sempre fui.
Um dia triste não é uma vida triste. Aqueles que dizem para a gente se levantar, de certa forma estão certos. Você fala isso porque pode gostar de mim, mas pode ser mais um que não tolera a tristeza, nem a minha, nem a sua. Tristeza é considerada uma doença que contagia, que é melhor eliminar. Não sorriu hoje? Medicamento. Sentiu vontade de chorar? Gravíssimo.
Estou com o número do contato do psiquiatra. Estar triste não é estar deprimido. A verdade é que não acordei triste, nem mesmo com uma suave tristeza. Está tudo normal. Quando ficamos tristes, está tudo normal. Depressão é coisa muito séria, contínua e complexa. Estar triste é estar atento a si mesmo. Ficar triste é estar normal. É um sentimento tão legítimo quanto a alegria. É um registro da nossa sensibilidade. De novo: estar triste não é estar deprimido.
Todos cantam a tristeza com R.E.M. em Everybody Hurts (“Todo mundo sofre”), mas poucos entendem de fato. Hoje os esforços são para entende-la. A tristeza só quer ter seu direito de existir. De assegurar seu espaço na sociedade que exalta apenas o lado bom. Uma sociedade que desafia quem está calado demais. Claro que é muito melhor acordar alegre, mas o melhor mesmo é não se privar do sentir – seja lá o que for. Eu sei, a gente não se permite estar alguns degraus abaixo da alegria.
Hoje é um dia que não escuto meu rock, nem por isso estou com pílulas mágicas para camuflar minha introspecção. Hoje não aceito convite para festas. Tristeza também é um sentimento de força (que vai passar, sempre passa). Que hoje me deixem quieto, pois silêncio é armazenamento de forças e sabedoria. Daqui a pouco, eu volto. A gente sempre volta, anunciando o fim de mais uma dor. Escrevi esse texto no leito de um hospital. Heitor recebeu alta, mais um fim de uma dor, até que venha a próxima – normais que somos.
Se a gente partir do principio básico, todos somos alguém, mas o que quero dizer é aquela sensação que a gente busca tanto. Por que a gente estuda tanto? Por que se sacrifica tanto? Quem a gente quer que valide a gente? Por que que a gente quer tanto que a família valide? Qual o fim dessa história? Até aonde isso vai? Processo de se entender, de se amar, a vida deve ser uma caminhada de respeito interno, de criar dentro de você um lugar de paz, sem ansiedade, um lugar tranquilo, de fazer boas escolhas, de bons pensamentos, de conversas saudáveis, expectativas alinhadas com o que a gente gostaria. O eixo da vida sempre vai ser interno.
Nossa mãe e nosso pai são importantes, mas o que eu quero fazer da minha vida é uma decisão minha. Eles vão embora e a gente continua aqui. Eles são parte da minha experiência de viver. Eu sei que a gente reluta contra isso. Vamos continuar essa linha de raciocínio básico. De novo, olhando claramente, a vida é uma oportunidade, de estar aqui e aproveitar. O que eu posso fazer para essa vida ser a mais tranquila possível? A vida é uma conexão com teu eu. É que a gente fica tão preocupado com coisas bobas. A gente, às vezes, é muito bobinho perto da vida, perto da nossa potência de agir.
O sentido não é ficar sentado no sofá. O caminho certo, na maioria das vezes, é a sensação de caminho certo. “Robson, estou na faculdade, como vou ter a certeza?”. A gente não tem. Então, a vida vai ser esse processo interno. A vida é uma caminhada, não uma maratona. A vida não pode ser um desespero. A vida não pode ser uma comparação, uma competição. Eu entendo quando a gente quer agradar a nossa família. Eu tô fazendo meu caminho. Eu nunca escrevi para dar orgulho. Eu sempre escolhi pra mim. Pai e mãe, espero que minhas escritas deem orgulho pela essência de quem sou. Quero muito dar orgulho, mas quero seguir meu caminho. Eu acho que nunca fui tão profundo em meus textos. Meu coração é o que eu tenho que seguir – e é o seu coração que você tem que seguir, entende?
A vida é instável. Todo mundo morre de medo todos os dias. Não existe a segurança. E olhar pra si e pensar: estou no caminho certo. A vida é tão legal, estou fazendo o melhor que posso. É paciência, dia após dia. Tem momentos que dão muita tristeza. O que é ser alguém? E de fato ser alguém? Ou é sentir? É o amor próprio que vai fazer você ter conversas inteligentes com você mesmo. O amor próprio que vai te guiar. A segurança não vem do caminho, mas vem da caminhada e a vida vai ficando mais fácil. Abre a tua consciência, segue que vai dar certo, mas não é no tempo das coisas que a internet é. A internet não é realidade. A comparação só te diminui. Esteja alinhado para você não se perder de você. Segue a tua essência e teu coração, segue o que você é, o que você acredita.
Um texto pede para ser escrito, mas nada tenho a escrever (se tudo já foi dito!). Vou mudar a fonte para ver se me animo. E, aí, as ideias aparecem. Algumas coisas na nossa vida acontecem porque tinham que acontecer, não importa se seu desejo era ao contrário ou lutou contra. Há coisas e desfechos que não dependem da nossa vontade e, por mais que pensamos que podemos controlá-los, não controlamos. Muitas vezes, a vida é mais forte que a gente. E, mesmo que você se culpe ou se arrependa por algo que aconteceu ou deixou de acontecer, talvez não dependesse de você aquilo ter ocorrido. O desfecho já estava escrito. Gosto de livros e filmes que refletem sobre a vida e as meras possibilidades. Faz-me pensar nessa enorme colcha de retalhos que é a vida.
O caminho que a gente considera ser bem mais sucedido a seguir, na verdade, pode não ser. Sabe por quê? Nossa visão de sucesso pode vir de uma noção falsa e externa de conquista. Seja uma medalha olímpica, a companheira ideal, um bom salário... O sucesso não é algo que se possa medir e a vida não é uma corrida que se possa vencer. Quando acreditamos que fizemos uma boa escolha? Há motivos inconscientes que nos conduzem a uma decisão, mas é sempre bom refletir. O que está em jogo nessa decisão? Que tipo de sucesso almejamos? A vida de cada pessoa pode ter infinitos desfechos. Com imprevistos, sustos, delícias, incertezas e sincronicidades. Todos os dias começam com infinitas possibilidades, mesmo que a gente não veja claramente.
Todos os dias, temos possibilidade de recomeçar, mesmo que a gente não veja no momento. Assim, posso lhe dar um conselho: aprenda a se ouvir mais. E faça suas escolhas alheio ao barulho do mundo lá fora, pois só quando acalmamos a mente, podemos ouvir nossos sentimentos e nosso coração. Entre um corredor e outro da escola, barulho e silêncio. Olho para cada estudante e penso: a vida de cada um pode ter vários e muitos desfechos, mas não vamos lamentar a vida escolhida e ficar sonhando ou se iludindo (não ajuda em nada). Você está onde deveria estar e a única coisa que é possível fazer nesse momento é tentar transformar a vida que virá.
Eu sei que muitas vezes apenas seguimos o fluxo. A cultura do nosso tempo, a educação que recebemos, as mídias sociais e as músicas que consumimos. Muitas músicas ouvimos e pouco ouvimos de nós mesmos. Pouco escutamos a voz interior – pasmem – se fosse ouvida, talvez, escolhêssemos caminhos bem melhores para nós mesmos. De novo, faça suas escolhas alheio ao barulho lá fora... “Quando o destino te chama, você precisa ser forte”, You’ll be in my heart (você estará em meu coração).
Eu amo escrever. É um dos meus prazeres. Esse texto está me pedindo uma liberdade acima de mim. Eu sou ousado, corajoso, sou dono de mim. Ainda vacilo diante das palavras, sou dono de uma alma em construção. Eu me acovardo diante de temas que querem ser expostos, recuso e me mergulho diante do meu Ser, mas tenho amadurecido, enxergo este texto como um homem amadurecido. Com minhas palavras, eu sei que entro em portas e arrebento cadeados, eu abro e fecho portas, faço barulho e não “aceito” ser julgado, como também não julgo. Acredito que a melhor forma de se expressar é através da arte: música, texto, poesia, pintura e outras artes das quais não me recordo agora.
A vida vai se resolver é vivendo, ousando, gozando, experimentando, desbravando. Eu sei, a leitura tem o atributo de acordar a gente que “está” adormecido. Trazer à tona emoções reprimidas, promover uma viagem para dentro e possibilitar aquilo que eu nem sabia que iria existir. Desejo que este texto possibilite o encontro que habita no seu Ser – que tem tanto a dizer e a ensinar. Escrever é dar vazão à liberdade. Sempre gostei da noite, do céu escuro, da lua, da harmonia da noite. E de quando as luzes de casa se apagam e a quietude domina a casa e também a nossa cidade. Deve ser por isso que não durmo bem.
A noite me chama, me convoca a pensar, faz revelações surpreendentes e aguça meus sentidos e minha intuição. A insônia é minha parceira constante. Escrevo texto inteiros deitado na cama, olhando para o quarto escuro. Nem sempre sou lua. Às vezes, sou sol. Tenho forças e vendavais dentro de mim. Eu preciso acolher meu sono, repousar meus medos, chorar e acolher meus vazios. Aos poucos, quanto mais eu desejava me esconder, me acolher, havia um furacão aqui dentro; hoje, eles crescem e ganham força dentro de mim. Hoje, eu sei, há dias de serenidade e de inquietação. Dias leves e dias de vulcão.
Escrevo este texto para todas as pessoas que são sol e também lua. Você pensa que está no controle de tudo, mas um dia você acorda e, sem nenhum aviso prévio, uma tempestade invade. Assim como o tempo muda – de manhã faz frio e à tarde calor –, nós também podemos mudar em questão de segundos. Somos contraditórios e cheios de contrastes. Na maioria das vezes, inquietos. Permita-se transbordar, permita-se chorar, permita-se recomeçar. Por fim, a vida é... gozar e viver.
Gosto do Instagram e de outras redes sociais. Através de posts e stories, me inspiro a escrever, me distraio momentaneamente de minha vida. Tenho postado frases e pequenos textos e o pessoal curte. Outro dia, fiz essa reflexão: “Qual o pior sentimento?”. Pra mim, é o de não ter sido verdadeiro comigo. Sentimento de não falei que gostava, eu não fui claro. Pode dar certo, pode dar errado, mas eu estava lá. Eu fui honesto com o que eu queria, eu fui verdadeiro comigo – com o que era maior em mim. Então, nada mais verdadeiro do que ser honesto com as nossas emoções. Dentro disso, a gente acerta, erra. Você sabe que vai ter que aprender a se perdoar e perdoar os outros. Seja sincero com você. Eu tenho certeza do que eu sou, do que sinto e a claridade de minhas emoções.
É preciso entender que a vida não é aquilo que é postado nos stories, e sim o que fica fora do alcance das câmeras, nas entrelinhas, nas declarações feita olhos nos olhos. A gente não pode tirar a oportunidade da outra pessoa amadurecer. Às vezes, podemos falar coisas do nosso ponto de vista. Portanto, a pessoa vai ter que passar por isso. Pra entender e amadurecer, seja dolorido ou não. Vai ter que ralar os joelhos para ver a dor de ralar o joelho. De novo, às vezes, a gente não pode salvar a pessoa sempre. A pessoa vai ter que passar por essa experiência mesmo. Porém, ninguém quer consumir dor. Já temos problemas, aflições e dificuldades o bastante para lidar no dia a dia e, quando vamos para as redes sociais, na maioria das vezes, queremos consumir beleza e realização. Mas é preciso entender que ali estamos diante de uma vida editada.
Agora é de madrugada e, mais uma vez, não consigo dormir. Desço as escadas, saio pela rua, olho as estrelas, lembro de certas coisas que eu fiz de errado. E minhas reflexões incomodam. Desejo que você esteja bem, muito além das edições, filtros e stories. Que você não force a barra dos seus piores dias e entenda que tudo se finda e se renova o tempo todo e, no fundo, a gente pode estar sempre recomeçando. Que o melhor da vida o alcance e encontre-o em boa sintonia, aberto às novas possibilidades. Que você aprenda a lidar com seus momentos de solitude e introspecção e saiba se pegar no colo quando choro quiser vir à tona. Desejo que você consiga ser tolerante com suas limitações, entendendo que, mais cedo ou mais tarde, a cura chegará, quando você menos esperar.
Por fim, é preciso ficar off, para que os pensamentos da gente encontrem repouso e equilíbrio, desaparecer também é um ato de paz. É claro que tem momentos que a gente cansa de tudo isso. Somos consumidos por uma estafa mental e ficamos saturados e entediados desse mundo virtual que, ao mesmo tempo, é ilusório e real. São novos tempos para quem conheceu o outro mundo (antes da internet), nem tudo melhorou, nem tudo piorou. Temos que saber extrair o melhor daquilo que temos. As redes sociais são um relacionamento sério que temos e devemos aprender a tirar de letra.
Robson Kindermann Sombrio
Psicólogo (CRP 12/05587) e autor de vários livros de autoajuda. @robsonkindermannsom