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Ciclista cego compete em Gravatal

05/07/2019 14h05 | Atualizada em 05/07/2019 15h58
Pai adapta bicicleta para que filho possa acompanhá-lo nas competições de Mountain Bike O Bairro Termas, em Gravatal, sediou no último domingo a 2ª Etapa da Copa Soul de Mountain Bike SC. A competição organizada pela Risco Zero Adventure, com o apoio da fábrica Soul Cycles, reuniu mais de 500 atletas vindos dos três Estados do Sul. O destaque foi a presença da atleta Tânia Clair Pickler Negherbon, campeã Brasileira, de Indaial e do ciclista Murilo Fischer, que já participou de seis olimpíadas. Porém, o brilho maior foi a presença de Márcio Selhorst e seu filho Augusto, de 8 anos, também de Indaial. O pai adaptou uma bicicleta para que o filho, que é deficiente visual, pudesse fazer todo o percurso ao seu lado. É a segunda prova que eles disputam com a bicicleta. Augusto nasceu com uma má formação no canal que lubrifica os olhos, chamado glaucoma congênito, uma doença rara, que leva a perda da visão pela pressão dos olhos. Isso ocasionou cataratas e descolamento da retina. Foram mais de 40 procedimentos médicos com anestesia geral em 16 cirurgias. Apesar dos pais correrem aos maiores centros especializados do Brasil, com sete anos o garoto perdeu totalmente a visão. Antes porém, Augusto, que hoje está na terceira série do Ensino Básico, foi alfabetizado, mesmo com somente 30% de visão em um olhos. Márcio é professor de Educação física e foi secretário Municipal de Esportes de Indaial, por nove anos, cidade onde sua esposa Giane nasceu e residem. A ligação da família com as práticas esportivas é grande. “Como eu estava a frente das competições, meus filhos eram muito ativos em todos os eventos que eu organizava, desde futebol, corridas, judô, etc. Por isso que esta perda da visão dele, no ano passado, foi algo muito impactante pra nós”, revela o pai. Para que o filho não sentisse tanto o fato de não poder enxergar, a família começou um trabalho intuitivo. “A gente trabalhou uma psicologia familiar de aconchego e acolhimento. De valorizar as coisas positivas que ele consegue fazer. Das conquistas mínimas que sejam, pra nós, é o máximo. Os médicos que acompanham a doença dizem que a parte psicológica dele está bem superada, graças a este trabalho que a gente conseguiu fazer. De uma forma bem familiar, a gente conseguiu fazer que o esporte para ele fosse hoje um alento”, acrescenta Márcio. O pai lembra que o interesse pelo pedal foi incentivado pelo filho mais velho, Gustavo, que irá fazer 13 anos agora em julho. “Ele começou a pedalar há dois anos. Em 2018 terminou o Campeonato Estadual Sub 12 em segundo lugar. Este ano, no Sub 14, venceu as quatro etapas. Aqui em Gravatal tivemos a satisfação de vê-lo em primeiro lugar na sub-18 Light na Copa Montain Bike”, diz orgulhoso. “Pra nós foi uma satisfação ver o Gustavo do pódio e o Augusto pedalando comigo”.   O início do pedal A história da inserção de Augusto no ciclismo aconteceu quando um dia em que Márcio iria sair para pedalar com o filho mais velho, em 2017. Ainda com pequena visão em um dos olhos Augusto disse que queria ir junto. O pai ficou temeroso, pois ele poderia cair. Então teve a ideia de cruzar dois lençóis em “X” e prender o filho em seu corpo. “Imaginei como se fosse uma mãe lá na África e fiquei dando voltas com ele no gramado para ver se ia ficar seguro”. A alegria foi tamanha que o pai postou as imagens nas redes sociais. O apoio dos amigos e incentivo da comunidade foi geral. O ato foi pauta de diversas reportagens em jornais. A cidade começou a apoiar o pai e o garoto em suas pedaladas. “Uma professora emprestou um canguru. E ele encaixou certinho, não foi mais preciso usar os lençóis. Passei a levar ele nas costas em diversos passeios, alguns superiores a 40 quilômetros. “Com a visão turva Augusto me perguntava por onde estávamos passando. Então comecei a narrar tudo que via”. Árvores, lagos, carros de boi, cachorro latindo, córregos... Tudo é motivo para o pai e o filho trocarem conversas durante a trilha. Como a criança cresceu e as costas do pai já doíam muito, a ideia foi adaptar uma bicicleta que ele pudesse acompanhar pedalando. Na quarta tentativa de um protótipo feito por amigos engenheiros, a bike funcionou. Com o uso de um cambão, Augusto, hoje sem visão alguma, pedala sua própria bicicleta que é puxada pelo pai. O próximo desafio é fazer um rádio comunicador para que ambos possam falar sem que Márcio precise olhar para trás a todo momento. “Eu me emociono muito narrando para ele tudo que estou vendo é uma ótima sensação”, conta o pai que diz que o filho não para por aí. Ele também disputa o Judô para deficientes visuais, e, agora em junho, foi campeão na sua categoria. Em setembro o pequeno e seu pai já confirmaram presença na terceira etapa da Copa Soul em Ituporanga.   A competição em Gravatal A 2ª Etapa da Copa Soul de Mountain Bike SC iniciou às 8h30min do último domingo e contou com três percursos diferentes, em asfalto e estrada de chão, passando por vários morros e trilhas, onde os ciclistas puderam apreciar as belezas naturais da cidade. Na categoria Pró-Elite, Jair Fernando dos Santos, 34 anos, de Rio do Sul, foi o grande campeão e no feminino, não poderia ser diferente, a campeã brasileira, Tânia Negherbon, 33 anos, mostrou seu favoritismo. Na parte da tarde foi a vez da criançada, às 13h teve início a corrida Kids, onde participaram crianças de várias idades. Todas completaram o percurso muito empolgados, e se perguntando quando seria a próxima. Pra que tudo ficasse ainda melhor, o dia foi de tempo bom, com um sol tímido no começo da manhã que foi ganhando confiança e esteve presente em todo dia. “Além dos competidores, inúmeros eram os espectadores, familiares, amigos e até mesmo os turistas estiveram conosco prestigiando o evento. Cada atleta que apontava na reta final era motivo de festa e aplausos entre os torcedores”, comemora Thiago Deodato Pereira, organizador da prova. “Assim como a largada, o momento de subir ao pódio foi de muita alegria e emoção para os atletas e a plateia”, completa.
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