Obstetra da Provida, Otto Henrique Feuerschutte explica o caso dos anticorpos contra o coronavírus
O nascimento do tubaronense Enrico há alguns dias, repercutiu no Brasil e em outros países. A novidade é que o pequeno trouxe mais segurança e alívio para as milhares de gestantes ao vir ao mundo já com anticorpos contra o covid-19. Imunização que somente aconteceu em decorrência da mãe, a médica Talita Mengali Izidoro, de 33 anos, ter tomado as duas doses da vacina contra o vírus, por indicação do ginecologista e obstetra do Complexo Médico Provida, Otto Henrique Feuerschutte, médico que atende Talita.
“Nosso país ainda não havia incentivado a aplicação da vacina do Sars-Cov2 para as gestantes. Poucas sociedades preconizavam essa imunização. No começo só a Sociedade de Medicina Maternal dos Estados Unidos à indicava, sendo que outras foram incentivando aos poucos. Atualmente a vacinação para esse público é consenso e preconizada como segura para grávidas, lactantes e puérperas. A Talita, como médica, sabia dos benefícios e juntos, decidimos a partir do terceiro bimestre, que ela deveria tomar a CoronaVac/Sinovac”, relata o médico.
A prescrição do imunizante, Otto destaca que foi realizada porque sua segurança era estimada de duas formas, uma pela experiência científica de que a vacina da gripe comum e da CoronaVac são iguais em sua confecção e a outra, pelo modelo teórico das outras imunizantes, as de vetor viral, que possuem tamanho molecular que não ultrapassa a barreira placentária. “Com relação ao risco fetal, teoricamente ele é nulo. Isso ainda tem que ser confirmado em estudos de fase 4, que são os estudos de vida real na população vacinada. Porém, pela forma que a vacina foi desenvolvida, esse risco seria igual a população não vacinada”, descreve o obstetra.
O sangue do Enrico foi coletado após o seu nascimento, estudos comprovaram a presença de anticorpos contra o coronavírus, mas médicos e cientistas ainda não sabem informar a durabilidade dessa imunização. “A duração e a eficácia da proteção do recém-nascido não é conhecida. Existem poucos relatos iguais a este, nenhum utilizando a CoronaVac. As informações e pesquisas são muito novas e ainda estão sendo coletadas. A produção da imunoglobulina G e sua passagem transplacentária durante a gestação é uma resposta desejada, pois essa substância não é disponibilizada no leite materno. Porém, não é o único mecanismo de defesa estimulado pela vacina, sendo que outros que não foram pesquisados e que são componentes do leite materno também podem ter sido produzidos. O que atualmente se considera, é que vamos ter que tomar vacina contra covid todos os anos, assim como fazemos já com a da gripe e H1N1”, informa Otto.
Enrico
O caso de Enrico está em estudos e deve ser acompanhado por mais alguns meses para verificação do tempo e da resposta imunológica da vacina de covid tomada pela mãe. “O que é mais importante e verdadeiro é que todas as gestantes tomem vacina contra o coronavírus, seja esta, CoronaVac ou Pfizer/BioNTech. Por enquanto estamos aguardando novas recomendações da vacina da Oxford/AstraZeneca. Todos os anos temos, em média, 2,6 milhões de mulheres grávidas no Brasil. Desde março do ano passado, com a pandemia, morreram mais de mil gestantes não vacinadas, vítimas de covid. O risco de evento tromboembólico após a infecção pelo covid é de 8 a 10 vezes maior do que o suposto em mulheres vacinadas, sendo então, a mortalidade por essa doença muito maior do que o esperado, caso a vacina fosse administrada em todas as gestantes no Brasil”, alerta o ginecologista.