Gosto da noite, do céu escuro, da lua, da harmonia que toma conta de mim quando escrevo. É quando as luzes da casa se apagam e a inquietude toma conta de mim. Deve ser por isso que não durmo bem. A noite me chama, me convoca a pensar, faz revelações surpreendentes e aguça minha intuição. A insônia é minha companheira. Deitado na cama, escrevo textos inteiros, olhando para o quarto escuro. É que a gente pensa que tem e está no controle de tudo, mas, na verdade, a gente não tem controle de nada. Sem nenhum aviso, uma tempestade invade. Assim, quando o tempo muda (chega uma frente fria), nós também podemos mudar em questões de segundos. Somos cheios de contrastes, de pensamentos e de sentimentos que, na maioria das vezes, são inquietos.
Tenho ouvido CPM 22, incessantemente, cantando: “Um minuto para o fim do mundo, toda a sua vida em sessenta segundos, uma volta no ponteiro do relógio pra viver. O tempo corre contra mim, sempre foi assim, sempre vai ser”. Nada nos prepara para o que virá. O que não é benção, é lição. Talvez, a vida esteja só desafiando a confiar. Deus é especialista em reviravoltas e, num piscar de olhos, tudo pode mudar. Algumas vezes, você vai sentir que pegou ônibus errado, que está afastado do destino, distanciando cada vez mais do caminho que planejou, sendo conduzido ao lado contrário ao que você pretendia. Às vezes, a gente não enxerga que embarcou no melhor ônibus – muito melhor do que aquele que você queria. E existem paisagem bem mais bonitas nesse caminho.
Há acontecimentos que a gente escolhe e acontecimentos que escolhem a gente. Há histórias que batalhamos serem contadas e histórias que somos protagonistas. Temos a tendência de acreditar que estamos no controle, dominando nossos rumos, determinando com precisão o que acontecerá no dia seguinte, na próxima semana, no próximo mês, no ano que vem. Mas a vida é aprendizagem e, se pudéssemos controlar, que aprendizado teríamos? Eu sei, nem sempre a vida pega leve. Algumas ocasiões nos devoram sem pedir licença, sem muita cerimônia. Não há avisos. A vida nos pega de surpresa e, quando damos conta, percebemos que não adianta muito querer controlar ou escolher, a vida tem seu próprio roteiro. E basta estar vivo para acontecer as coisas boas e outras não tão legais assim.
É bom lembrar que coisas boas acontecem todos os dias e a gente, no fim das contas, não precisa dar tantas explicações, porque as pessoas entendem o que querem e o que lhes convém. Eu sei, tem muita gente que faz o bem e que não está aqui para prejudicar ninguém. A gente só quer seguir o caminho em paz. Não deveríamos dar tantas explicações, mas damos. Não precisaríamos nos incomodar tanto com o que dizem e pensam a nosso respeito, mas nos incomodamos. Nos últimos tempos, tenho aprendido uma coisa: afastar-se de algumas pessoas é autocuidado.
Quem são nossos heróis? Dificilmente, começo um texto pelo título. É sempre a última coisa, mas hoje foi diferente. Eu acho que esse texto vai ser. Todos somos diferentes. Eu tenho admiração pelo Guga (Gustavo Kuerten), um catarinense que me representa. Somos fãs do Ayrton Senna, baita ser humano, são como heróis para nós. Realmente, são pessoas reais e diferentes. Porém, temos os heróis do dia e dia e é sobre eles que vou escrever. Herói é aquela mãe que cuida do filho autista, é aquela mãe que perdeu o filho, e a esposa que perdeu marido e ainda dá conta da casa. Herói é aquele pai que sustenta e se preocupa com a família. Herói é o médico e a enfermeira que estão lá de madrugada, trabalhando em prol do próximo. Herói é teu pai, tua mãe ou aquela tia (tio) que sempre se preocupou por você.
Vou abrir um parêntese: no primeiro jogo do Campeonato Brasileiro série B (Criciúma), crianças autistas entraram no campo com seus ídolos, lado a lado. Alguns autistas têm sensibilidade aos sons. E, é claro, foi pedido silêncio para a torcida até o início do jogo. A ideia era e foi proporcionar também a esses torcedores, os Autistas Carvoeiros, momentos lindos em sua memória e em seu coração.
Posso te dizer que foi lindo. Tenho acompanhado pelos perfis da Tamara Gonçalves e Barbara Ricken no Instagram. Vejo a vida delas e eu admiro (redes sociais têm coisas muito boas para a gente aprender). Como mencionei acima, gosto do Guga, mas admiro essas duas, a rotina e a vida delas com seus filhos. É o amor em letras maiúsculas no dia a dia. Quero pedir desculpas a tantas outras mães que não citei no texto aqui, mas se sintam lembradas, por favor. Lembrei de um poeta muito bom, um escritor com um talento ímpar, o Chorão. “Na minha vida tudo acontece, mas quanto mais a gente rala, mais a gente cresce”. Vi no Instagram o Theo cantando Baitaca. Foi lindo, que menino de ouro! E vi que ele se encontrou com o artista. Que momento legal! A vida é isso. A vida é sempre boa. E o mínimo que a gente tem que fazer é aprender com essas pessoas. Há um único objetivo: nos ensinar, tal como a música do Chorão continua: “hoje estou feliz porque eu sonhei com você, e amanhã posso chorar por não poder te ver”. Theo e Augusto, o sorriso de vocês vale mais do que qualquer diamante.
E essas mães, quanto valem? Lembrei da Claudete, cuidando do Lucas. Quem são nossos heróis mesmos? A vida voa, num dia somos filhos e, em outros momentos, somos pais. De repente, tudo se funde e nos surpreende. Gosto de redes sociais, mas acho que estamos ali demais. Todo mundo posta sorrindo, belo e lindo pra foto. Mas a vida na real não é só essa. Por esse motivo que pego carro, coloco meu filho dentro e vou aos jogos do Criciúma (não é apenas um jogo de futebol, é entretenimento). São, no mínimo, 3 horas sem que ficamos no celular. Por fim, são crianças eficientes que entraram em campo. De novo: parabéns, Tamaras! Parabéns, Bárbaras e Claudetes da vida. Parabéns a todas as mães!
Eu sou apaixonado pela escrita, por aquilo que escrevo. Uma conversa me inspira a escrever, músicas também. Gosto de quem gosta de filosofar. Numas conversas dessas, alguém diz: “é preciso não perder o encanto pelas coisas mais simples. Sabe, Robson, tento não dificultar a vida, penso sempre positivo. Já fiz terapia e me ajudou, mas eu me ajudei bem mais”.
Nem todos nós pensamos dessa forma. Acho legal quem simplifica a vida, as coisas. Fico imaginando, e se eu perguntasse mais? Acho que diria que gosta de todas as estações do ano. A conversa fluía. A vida com seus significados e as coisas simples são as que mais importam. Todos os dias começamos com infinitas possibilidades, mesmo que a gente não enxergue claramente. Todos os dias, novas possibilidades.
Posso lhe dar um conselho? Aprenda a ouvir mais. E faça suas escolhas alheia ao barulho do mundo, pois, quando silenciamos a cabeça, podemos ouvir coração. A vida pode ter infinitos desfechos, mas lamentar a vida escolhida e ficar sonhando ou se iludindo com a vida não ajuda em nada. Você está onde deveria estar. A única coisa que é possível fazer nesse momento é tentar transformar o dia que virá. A questão é: há motivos que a gente não entende, que nos conduzem a uma decisão, mas sempre é tempo de refletir, por mais que acreditemos que fizemos uma boa escolha. O que está em jogo com essa decisão? Algumas coisas acontecem porque tinham que acontecer. Não importa se você desejou o contrário.
Há desfechos que não dependem da nossa vontade e, por mais que pensemos controlá-los, não controlamos. De repente, a gente percebe que a felicidade se constrói assim. Não existe vida perfeita, mas momentos simples e concretos. Vivemos tempos diferentes, onde todo mundo posta, todo mundo só aparece sorrindo, todo mundo curte. Todo mundo tem a possibilidade de aparecer, sorrindo de preferência, mas logo a gente se dá conta que a gente não é todo mundo. E sentimos falta das coisas mais simples. Um abraço, demorado de preferência, um beijo, um sorriso. Gosto das redes sociais, mas nada substitui o encontro. De vez em quando, é bom submeter ao imprevisível. Aquilo que lhe pega de surpresa. Como esse texto, num dia comum. A vida é uma enorme cocha de retalhos. Com seus imprevistos, sustos, delícias, incertezas. Vá a uma livraria, lá cada livro na prateleira representa uma história. E você tem a possibilidade de ver qualquer ou todas as versões, ficções ou vida real. Alternativas de vidas possíveis. A leitura leva a mergulhar mais profundamente em si mesmo. Lembrando a refletir sobre lembranças, expectativas, obediência, desejos, decepções, decisões. Por fim, a vida de cada um pode ter infinitos desfechos.
Luz entra pela casa, trânsito parado, bar com música, pessoas conversando na esquina, gente caminhando, crianças brincado, movimento intenso. Tudo em movimento. A gente tem que continuar. Diálogos, bom papo e uma boa filosofia da vida. Estava conversando com uma senhora que perdeu marido para corona vírus (quase não se fala mais nisso). Ela triste, falando que sente falta. Entendo e compreendo ela. Ninguém disse que seria fácil, ninguém disse que seria difícil. Tenho uma frase comigo da minha mãe “a gente tem que continuar”. Essa frase é muito minha mãe. A vida e constituída de muitas histórias, e finalizar uma etapa é apenas um capítulo não significa o fim. Quem disse que meu pai, minha mãe e até mesmo minha irmã teriam que estar comigo em carne e osso até esse momento.
A vida é prova. Todas as questões são especificas para seu crescimento. Errar faz parte, deixar a vida passar em branco que não é legal. Somos a leitura que fazemos do mundo. E podemos ler delicadezas, aceitar o espetáculo. Mas, não podemos ter falta de esperança e a ausência da fé. Quanto mais vivemos, mais eternizados ficamos. A vida vai passar e se você fica feliz quando o outro está feliz, você entendeu a vida. A poda é necessária para a planta se fortalecer e equilibrar – o luto ensina e amadurece. Ensina que existe tempo para tudo, e nem tudo tem respostas. Algumas folhas vão cair durante a vida, modificando a árvore e a espécie. Os mais fortes são aqueles que se adaptam. Algumas folhas são desnecessárias, ainda que não se saiba essa compreensão do momento. Ensina a modificar nossa essência.
Enquanto tivermos bons pensamentos, permanecemos jovens. Penso que até o último dia de nossas vidas não descobriremos quem realmente somos. O tempo faz a poda, pode escrever são cada tesouradas, são tantas feridas, algumas não se curam, e você terá que se ajustar a uma nova forma de viver. Quem eu conversava? Foi com Dona Neide. Eu senti que ela precisava conversar, eu também estava afim de um bom papo, não imaginava que viraria um texto. E a vida é uma adaptação constante. Já perdi amigos, me separei de pessoas insubstituíveis, sofri decepções absurdas, descobri que ninguém é perfeito. Todos somos felizes, e se tivermos sorte a cada etapa sairemos melhores. O tempo melhoras as pessoas. Que saibamos perdoar, a pedir perdão e entender que o tempo leva pessoas especiais.
A vida é muito curta e o roteiro só depende de você. É assim que a gente se mantém vivo. Decidindo ser melhor a cada dia. Se permitindo chorar, se permitindo sorrir, se autorizando a se diverti com a própria vida. Todo mundo aprende, não importa como. Ops! Vou reescrever, pois nem todo mundo aprende. Não importa quantos tombos leve. Precisamos compreender que com esforço, empenho e fé somos igualmente capazes de cruzar a linha de chegada. Para depois então relaxar, porque aprendemos a viver a saber que nem todos os dias estaremos bem, mas precisamos levantar e confiar no nosso Deus, no nosso taco.
Dias de outono, logo virá próxima estação. Saímos do verão e ainda não estamos prontos para o inverno. Exigência da felicidade está se tornando a causa da nossa infelicidade. Porque vivemos esperando, buscando, desejando e esquecemos de usufruir, de viver o presente. Da paz acolhedora de um dia, essa que nos reconcilia com a vida e suas possibilidades. Do trânsito parado, das contas a receber, das contas a pagar. Mas, também de ver um gol do filho na escolinha de futebol, do pôr do sol visto da janela de casa, do beijo de boa noite, do fim de semana na praia, no sítio, com chuva ou com sol, do abraço acolhedor. Como diz a música Jota Quest, “vivemos esperando dias melhores”. E esquecemos das conquistas diárias, aquilo que é possível – “só isso”.
A vida não é um presente de grife, embrulhado em um papel bem bonito e especial. Nem laço é de cetim. A vida é um presente gratuito, com cheirinho de mãe de um pai, com um cheirinho familiar. A vida é imperfeita. Nós somos imperfeitos. Quando deixamos de nos iludir com a grama do vizinho e tanta propaganda enganosa, finalmente vivemos melhores e amamos mais. Nossos dias são cheios de altos e baixos, nossos afetos, nem sempre perfeitos. Afetos são conquistados, não são perfeitos. Nosso trabalho, por vezes estressante e cansativo, nossa realidade tão imperfeita e particular. Sofremos porque imaginamos a vida como algo que não temos. Sem querer, desprezamos nossas conquistas. Imaginamos um pote de ouro, além do arco-íris. Eu estou lembrando do nosso delicioso feijão com arroz.
Estar vivo e estar em movimento. O que dá sentido não é o fim, e sim o percurso, imperfeito e simples. Enquanto vivermos de expectativas, sempre haverá a possibilidade de nos frustramos. Mas, isso também é uma escolha, uma opção. A maioria dos dias são comuns, familiares. Claro que temos dias com fortes emoções, músicas com inícios e finais felizes. O que não podemos é nos deixar de se apaixonar por aquilo que é. Aquilo que simplesmente é. Não vamos deixar a exigência da felicidade tornar a causa da nossa infelicidade. Tudo é tão simples, tudo é tão bom. Pausas são necessárias, e uma hora você irá perceber que foi importante ter o freio puxado, o caminho desviado. Se perdoe por ter sido menos entendido, menos amado do que gostaria. Por fim, tenho que terminar esse texto. Vou fazer uma pausa e buscar um café. Logo, terminarei mais um texto, degustarei meu café. Podemos querer muita coisa, mas nada garante que será nossa. Podemos desejar muito um momento, nada garante que será possível. A perfeição dos dias, dos acontecimentos, não nos pertence. Tudo faz parte de uma composição maior, na qual estamos inseridos, como pensamentos coloridos. Temos intenções, supomos nossas escolhas e direções, mas o final pode ser diferente do que imaginamos.
Robson Kindermann Sombrio
Psicólogo (CRP 12/05587) e autor de vários livros de autoajuda. @robsonkindermannsom