Casos registrados em Braço do Norte expõem a sofisticação das fraudes, que agora envolvem chamadas de vídeo e espelhamento de tela
O golpe do falso advogado, que tem se espalhado por todo o país, voltou a atingir cidadãos da região Sul de Santa Catarina, com registros recentes em Braço do Norte. Criminosos têm se passado por advogados e entrado em contato com clientes de escritórios locais por WhatsApp, alegando que um processo foi ganho e que o valor da indenização já está disponível para saque. Para receber o suposto montante, a vítima é orientada a fazer um depósito prévio, e, após o envio do dinheiro, os golpistas desaparecem.
O advogado Maicon Schmoeller Fernandes, ex-presidente da OAB de Braço do Norte, explica que o esquema tem evoluído e se tornado ainda mais perigoso. “Os golpistas agora realizam chamadas de vídeo e utilizam técnicas de espelhamento de tela para acessar contas bancárias das vítimas durante a ligação. Uma cliente perdeu R$ 59 mil, e outro, R$ 15 mil. Há casos com valores menores, mas igualmente graves. Eles se passam por nós, usam fotos reais e causam um prejuízo enorme”, alerta o advogado.
Apesar dos esforços da OAB e da Polícia Civil, as fraudes continuam ocorrendo. “Os órgãos estão atentos, mas a velocidade com que esses golpes se espalham é muito grande. É fundamental que o público fique alerta”, reforça Maicon. Segundo ele, advogados nunca pedem depósitos via WhatsApp para contas de terceiros nem prometem liberação rápida de valores. Em caso de dúvida, o cliente deve entrar em contato diretamente com seu advogado pelos canais oficiais ou presencialmente, e, se já tiver sido vítima, registrar boletim de ocorrência imediatamente.
Diante da gravidade da situação, a OAB Santa Catarina decidiu ingressar com uma ação civil pública (ACP) contra plataformas digitais e operadoras de telefonia utilizadas pelos criminosos. A medida faz parte da campanha “Contragolpe da Ordem”, lançada para proteger a cidadania e a advocacia catarinense.
Segundo o presidente da OAB/SC, Juliano Mandelli, o objetivo é cobrar responsabilidade das empresas na proteção dos usuários. “Recebemos relatos todos os dias de colegas e cidadãos sendo vítimas de golpes que usam o nome da advocacia catarinense. As plataformas também precisam garantir segurança tecnológica eficaz. Não podemos permitir que essas práticas continuem se alastrando”, afirmou.
O parecer que embasa a ação foi relatado pela conselheira estadual Caroline Schneider, com apoio técnico das Comissões de Direito do Consumidor e Direito Digital da OAB/SC. A decisão unânime do Conselho Pleno reforça que as fraudes digitais configuram risco inerente à atividade das empresas, e não culpa exclusiva do consumidor.
Para o presidente da Comissão de Direito do Consumidor, Alisson Luiz Micoski, o golpe não ameaça apenas vítimas individuais, mas também a credibilidade do sistema de Justiça. “É necessária uma resposta coordenada das instituições para proteger o cidadão diante da vulnerabilidade estrutural do ambiente digital”, afirmou. Já o presidente da Comissão de Direito Digital, Thiago Martinelli Veiga, ressaltou que é preciso aperfeiçoar as tecnologias de segurança. “Essa é uma preocupação nossa, especialmente no que diz respeito às operadoras de telefonia, onde esses golpes costumam se originar”, pontuou.
A OAB/SC seguirá acompanhando o caso e ampliando as ações preventivas em todo o estado. Em Braço do Norte, onde os episódios recentes reforçaram o alerta, a advocacia e as autoridades locais intensificam campanhas de conscientização para proteger a população de novos golpes.