A gente, com celular na mão, está ficando mais preguiçoso. Não desgrudamos sequer um minuto. Eu sei que, para trabalhar, é uma ótima ferramenta, ou para falar com o filho que está a mil quilômetros de distância. Ajuda e ajuda em muita coisa. Tudo mudou e tudo está ficando mais rápido. E pra melhor? Não sei. Sou de um tempo em que as câmeras não eram digitais. Lembro que a gente comprava filme (que período pré-histórico!). Como era legal comprar um filme de 36 poses. Tinha de 12, 24 e 36 poses. Então, a gente teria que bater trinta e seis fotos para depois revelar e ver todas. Sem desperdícios, iríamos revelar. Nossa, que expectativa para perceber que ficou um arraso. Agora, o mundo mudou. Tudo ficou mais rápido, fácil, dinâmico e moderno – fugaz, talvez.
Hoje, temos celulares que fotografam imediatamente, postamos fotos cheias de filtros e com efeitos em redes sociais. Tudo muito luxuoso. Assim, não percebemos o quanto mudamos também. Tudo era mais lento. Ou seja, a vida adquiriu esse molejo também. E passamos a viver a vida assim. O que quero dizer é que nada é pra já. Nem tudo tem que ser agora. Não se afobe. Temos tanta pressa, eu sei. Queremos ser curados das nossas incompletudes, curados das nossas precariedades. Coisa estranha, não? Parece que nada nos completa. Quando algumas coisas não dão certo, ficamos indignados com a vida. Queremos rapidez, design. Como se tudo fosse descartável, substituível. Os tempos mudaram, mas por dentro andamos precários... Será?
Estou tentando ter uma linha de raciocínio para poder escrever esse texto. No celular, chegam as mensagens a cada segundo, preciso esquecer e vou deixá-lo longe de mim. Voltando ao assunto, vivemos afobados e carentes de repostas. Nem tudo é feito máquina digital. Esquecemos que, lá no fundo, precisamos de tempo. Pensei outra coisa, me veio outro pensamento: as expressões “não gostei” e “vou deletar” não existiam em outras épocas. Os sentimentos vêm aos poucos e, aos poucos, vamos nos modelando, transformando e revelando. A vida e os sentimentos trazem muitas surpresas indesejadas, mas há muita coisa boa também, que aparece no instante exato. Esse texto serve apenas como uma boa reflexão. Por fim, eu desejo que a vida seja leve. Que a gente encontre motivos para viver mais, que formule as combinações neurais e encontre rotinas menos desgastantes e mais amor consigo mesmo, com o outro. Vamos andar mais de bicicleta, jogar mais futebol, cultivar um jardim, ler mais livros, mais jornais, quem sabe dançar. Tanta coisa é possível fazer longe de uma tela. Que a gente consiga se divertir mais com o mundo, com a gente mesmo. Um brinde à vida que temos...
Robson Kindermann Sombrio
Psicólogo (CRP 12/05587) e autor de vários livros de autoajuda. @robsonkindermannsom