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COLUNISTAS

Permito-me a tristeza

04/10/2024 13h46 | Atualizada em 04/10/2024 13h47 | Por: Robson Sombrio

O sol se exibindo lá fora e o céu convidava a viver. Se eu disser que acordei triste, que foi difícil sair da cama, mesmo sabendo das muitas coisas a fazer e das decisões a tomar? Triste e sem vontade de fazer as coisas simples da vida, aquelas coisas que a gente faz sem prestar atenção no que está sentindo.
Se eu disser que hoje não foi um dia como qualquer outro? Hoje, levantei devagar e tarde, não tive vontade de nada. Você vai reagir como? Minha mãe falaria “te anima”. Amigos iriam recomendar antidepressivos. Outros diriam que há pessoas vivendo coisas graves muito mais graves (mesmo desconhecendo a razão da minha tristeza). Alguns vão dizer para colocar roupa leve, ouvir uma música revigorante e voltar a ser aquele que sempre fui. 
Um dia triste não é uma vida triste. Aqueles que dizem para a gente se levantar, de certa forma estão certos. Você fala isso porque pode gostar de mim, mas pode ser mais um que não tolera a tristeza, nem a minha, nem a sua. Tristeza é considerada uma doença que contagia, que é melhor eliminar. Não sorriu hoje? Medicamento. Sentiu vontade de chorar? Gravíssimo. 
Estou com o número do contato do psiquiatra. Estar triste não é estar deprimido. A verdade é que não acordei triste, nem mesmo com uma suave tristeza. Está tudo normal. Quando ficamos tristes, está tudo normal. Depressão é coisa muito séria, contínua e complexa. Estar triste é estar atento a si mesmo. Ficar triste é estar normal. É um sentimento tão legítimo quanto a alegria. É um registro da nossa sensibilidade. De novo: estar triste não é estar deprimido. 
Todos cantam a tristeza com R.E.M. em Everybody Hurts (“Todo mundo sofre”), mas poucos entendem de fato. Hoje os esforços são para entende-la. A tristeza só quer ter seu direito de existir. De assegurar seu espaço na sociedade que exalta apenas o lado bom. Uma sociedade que desafia quem está calado demais. Claro que é muito melhor acordar alegre, mas o melhor mesmo é não se privar do sentir – seja lá o que for. Eu sei, a gente não se permite estar alguns degraus abaixo da alegria. 
Hoje é um dia que não escuto meu rock, nem por isso estou com pílulas mágicas para camuflar minha introspecção. Hoje não aceito convite para festas. Tristeza também é um sentimento de força (que vai passar, sempre passa). Que hoje me deixem quieto, pois silêncio é armazenamento de forças e sabedoria. Daqui a pouco, eu volto. A gente sempre volta, anunciando o fim de mais uma dor. Escrevi esse texto no leito de um hospital. Heitor recebeu alta, mais um fim de uma dor, até que venha a próxima – normais que somos.    
 

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