Eu escrevo e me arrisco a escrever. E vou. A vida é curta e acreditar me mantém vivo, apesar dos ombros pesados, joelhos machucados, pés calejados. Porém, se acreditarmos em tudo o que nos contam por aí, a gente não vive. Quem já sofreu muito com comentários maldosos foi o tão sábio Chico Xavier. Ele seguiu sua vida, acreditando muito em seus princípios (essa foi uma das lições que nos deixou). Tudo o que nos faz feliz ou infeliz serve para montar nossa personalidade, uma personalidade com duzentas mil peças. Lembra daquela noite em que você não conseguia parar de chorar, lembra quando você ofendeu, lembra da demissão injusta? Lembra do comentário injusto que fizeram a seu respeito? Do acidente que deixou cicatrizes? Tudo isso vai formando quem você é.
Não existe nenhuma peça que não se encaixe. Todas são aproveitáveis. Tudo aquilo que você faz, tudo aquilo que você não fez, volta. Como são muitas, você pode esquecer algumas. E a vida vai trazer aquilo que você fez. Somente aquilo que você fez. Nada mais. O que você fez? Quando você menos espera, tudo volta. Lembra do comentário sobre aquela pessoa? Lembra do comentário que você nem sabia que era verdade e, mesmo assim, comentou? Se fosse o inverso, você gostaria? Eu posso julgar você do jeito que eu quiser, pode ser? Eu sei, é necessário que eu escute você para completar o quebra-cabeça. Não tem outro jeito. Não quero escrever isso, mas tenho que escrever (existe muita gente mal intencionada).
Existe uma coisa necessária pra ser ensinada e que, talvez, esteja cada vez mais raro: a inteligência no comportamento, ou a elegância, melhor escrevendo. Isso é um dom que vai muito além do ser educado no trânsito e que vai muito além de dizer um simples obrigado. É a elegância que nos acompanha e que se manifesta nas situações mais prosaicas, quando não há festa e nem precisa postar no Instagram. É possível detectar nas pessoas que elogiam mais do que criticam. Nas pessoas que escutam mais do que falam. E, quando falam, passam longe da fofoca, das pequenas maldades ampliadas boca a boca. É elegante dizer “bom dia”. É elegante não ser folgado demais. É elegante não mudar o “jeito de ser” apenas para se adaptar ao outro. É elegante retribuir carinho e solidariedade.
Não existem palavras que ensinem a ter uma percepção elegante do mundo. Começo a pensar que ser elegante é uma habilidade, ou melhor, é um dom que abrange bem mais do que imaginamos. Quem é elegante? Pessoas que evitam assuntos constrangedores. Pessoas que ouvem mais e falam menos. Tudo é um aprendizado. Nariz empinado não substitui a elegância do gesto. A saída é desenvolver em si mesmo a arte de conviver. Independentemente de status social, a sinceridade é ainda mais elegante do que a arrogância. Eu penso que, pra viver, o que menos se precisa é de frescura. Eu estou achando que a educação (ou a elegância) está enferrujando por falta de uso.
Robson Kindermann Sombrio
Psicólogo (CRP 12/05587) e autor de vários livros de autoajuda. @robsonkindermannsom