Dias de outono, logo virá próxima estação. Saímos do verão e ainda não estamos prontos para o inverno. Exigência da felicidade está se tornando a causa da nossa infelicidade. Porque vivemos esperando, buscando, desejando e esquecemos de usufruir, de viver o presente. Da paz acolhedora de um dia, essa que nos reconcilia com a vida e suas possibilidades. Do trânsito parado, das contas a receber, das contas a pagar. Mas, também de ver um gol do filho na escolinha de futebol, do pôr do sol visto da janela de casa, do beijo de boa noite, do fim de semana na praia, no sítio, com chuva ou com sol, do abraço acolhedor. Como diz a música Jota Quest, “vivemos esperando dias melhores”. E esquecemos das conquistas diárias, aquilo que é possível – “só isso”.
A vida não é um presente de grife, embrulhado em um papel bem bonito e especial. Nem laço é de cetim. A vida é um presente gratuito, com cheirinho de mãe de um pai, com um cheirinho familiar. A vida é imperfeita. Nós somos imperfeitos. Quando deixamos de nos iludir com a grama do vizinho e tanta propaganda enganosa, finalmente vivemos melhores e amamos mais. Nossos dias são cheios de altos e baixos, nossos afetos, nem sempre perfeitos. Afetos são conquistados, não são perfeitos. Nosso trabalho, por vezes estressante e cansativo, nossa realidade tão imperfeita e particular. Sofremos porque imaginamos a vida como algo que não temos. Sem querer, desprezamos nossas conquistas. Imaginamos um pote de ouro, além do arco-íris. Eu estou lembrando do nosso delicioso feijão com arroz.
Estar vivo e estar em movimento. O que dá sentido não é o fim, e sim o percurso, imperfeito e simples. Enquanto vivermos de expectativas, sempre haverá a possibilidade de nos frustramos. Mas, isso também é uma escolha, uma opção. A maioria dos dias são comuns, familiares. Claro que temos dias com fortes emoções, músicas com inícios e finais felizes. O que não podemos é nos deixar de se apaixonar por aquilo que é. Aquilo que simplesmente é. Não vamos deixar a exigência da felicidade tornar a causa da nossa infelicidade. Tudo é tão simples, tudo é tão bom. Pausas são necessárias, e uma hora você irá perceber que foi importante ter o freio puxado, o caminho desviado. Se perdoe por ter sido menos entendido, menos amado do que gostaria. Por fim, tenho que terminar esse texto. Vou fazer uma pausa e buscar um café. Logo, terminarei mais um texto, degustarei meu café. Podemos querer muita coisa, mas nada garante que será nossa. Podemos desejar muito um momento, nada garante que será possível. A perfeição dos dias, dos acontecimentos, não nos pertence. Tudo faz parte de uma composição maior, na qual estamos inseridos, como pensamentos coloridos. Temos intenções, supomos nossas escolhas e direções, mas o final pode ser diferente do que imaginamos.
Robson Kindermann Sombrio
Psicólogo (CRP 12/05587) e autor de vários livros de autoajuda. @robsonkindermannsom