Trabalho como psicólogo na Coordenadoria Regional de Educação de Braço do Norte, e ao longo da minha experiência, tenho observado o impacto significativo que o hábito de reclamação constantemente pode ter na saúde emocional, mental e até física.
No meu dia a dia, seja presente nas escolas ou em conversas triviais com amigos e familiares, percebo como o comportamento de reclamar-se frequentemente está presente. Vamos imaginar uma cena comum: duas pessoas andando rapidamente pela rua. Uma delas: “Oi, tudo bem?” ou “Como você está?”. Automaticamente, um outro responde: “Tô indo” ou “Tudo bem, só se for pra ti!” – uma gíria tão conhecida. Essa resposta reflete uma reclamação automática.
Esse tipo de consulta habitual ou queixume, pode ser prejudicial não apenas para quem reclama, mas também para quem escuta. Reclamar é algo tão cotidiano que parece natural, quase um fenômeno universal. Todos nós reclamamos em algum momento. No entanto, o problema surge quando a frequência e a intensidade desse aumento. As ocasiões ocasionais fazem parte da experiência humana, mas, quando se tornam parte da nossa rotina diária, passam a ser específicas.
Por que reclamamos?
Muitas vezes, reclamamos em busca de aprovação ou para validar nosso ponto de vista. Não considero o ato de reclamação ruim em si, mas ele se torna um problema quando se transforma em algo periódico, que se estende a vários contextos – familiar, profissional e social.
Neuropsicologia e o Impacto no Cérebro
A neuropsicologia, embora seja um campo relativamente novo, já trouxe insights importantes sobre as consequências do ato de reclamação. O cérebro humano foi projetado para identificar ameaças e problemas. Isso explica por que é tão fácil focar no negativo e por que algumas pessoas apresentam uma reclamação mais do que outras. Quantas pessoas assim você conhece?
É fato que o cérebro se fixa no que é ruim porque, para nossos antepassados, isso aumentava suas chances de sobrevivência ao enfrentar perigos. No entanto, no mundo moderno, esse mecanismo pode se tornar prejudicial. Focar constantemente no que não é bom alterar nossa maneira de perceber o mundo e pode nos levar a um estado mental negativo.
Para mudar o hábito de reclamação
A boa notícia é que é possível substituir esse comportamento por práticas mais saudáveis. Aqui estão algumas estratégias que eu recomendo:
Autoconsciência: Identifique os momentos em que você reclama. Perguntar se um pedido de consentimento é útil ou apenas uma resposta automática.
Prática da Gratidão: Foque nos aspectos positivos da sua vida. Esse hábito ajuda a redirecionar os padrões de pensamento.
Reenquadre os Problemas: Em vez de reclamação, pergunte-se: "O que posso fazer para mudar essa situação?"
Reduza a Exposição ao Negativo: Afaste-se de conversas ou conteúdos que alimentem o hábito de reclamação.
Reclamar ocasionalmente é natural e faz parte da vida, mas tornar isso um hábito pode trazer custos elevados. Buscar alternativas para lidar com os desafios do dia a dia de forma mais positiva não transforma apenas a nossa saúde mental e emocional, mas também melhora significativamente a qualidade de vida como um todo.
Robson Kindermann Sombrio
Psicólogo (CRP 12/05587) e autor de vários livros de autoajuda. @robsonkindermannsom