Por Claudia Borba – Coluna Abrindo a Garrafa
Verão combina com sol, piscina, praia, churrasco e aquela preguiça boa de fim de tarde. E se tem algo que pode elevar qualquer um desses momentos, é uma garrafa de vinho bem escolhida. Sim, vinho no calor funciona, e funciona muito bem. O segredo está menos no preço e mais no estilo.
Existe um mito persistente de que vinho é coisa de inverno. Não é. O que não combina com o verão são vinhos pesados demais, alcoólicos demais, cheios de madeira e estrutura. Esses pedem frio lá fora. Para os dias quentes, a lógica é outra: acidez alta, corpo leve a médio, álcool moderado e frescor. Simples assim.
Brancos aromáticos, rosés, espumantes e até tintos leves entram facilmente nessa lista. Aliás, vale dizer sem medo: tintos podem, e devem, ser bebidos refrescados no verão. A própria Sarah Jane Evans, Master of Wine e co-presidente do Decanter World Wine Awards, defende isso. Quanto mais simples, frutado e com poucos taninos for o tinto, melhor ele se comporta servido fresco. O importante é evitar excesso de carvalho e taninos agressivos.
Outro ponto fundamental é a temperatura. No calor, o vinho esquenta rápido. Por isso, minha dica é sempre servir cerca de 2 °C abaixo da temperatura ideal, porque em poucos minutos ele estará exatamente onde deveria. E, sim, manter garrafas já geladas na geladeira evita estresse desnecessário. Um branco e um espumante de prontidão já salvam qualquer tarde quente.
Na pressa? Dá para gelar rápido, sim, com cuidado. Papel toalha molhado em volta da garrafa e alguns minutos no congelador resolvem, mas atenção para não esquecer lá dentro. Ninguém quer transformar vinho em picolé. Fora da geladeira, balde com água e gelo funciona melhor do que só gelo. E se quiser acelerar ainda mais, um pouco de sal grosso ajuda, mas sempre com vigilância.
Falando em escolhas certeiras, alguns estilos são praticamente sinônimo de verão. Riesling, tanto seco quanto levemente doce, é aromático, refrescante e extremamente gastronômico. Pinot Grigio, com sua acidez vibrante, é perfeito para frutos do mar. Sauvignon Blanc é aquele curinga que nunca decepciona: fresco, herbal, cítrico, fácil de beber. Alvarinho e os vinhos do Minho, como o Vinho Verde, são quase uma brisa engarrafada. E os espumantes… bem, esses dispensam defesa. Borbulhas, frescor e versatilidade gastronômica fazem deles os reis do verão.
Mas deixo aqui uma última,e importante, lembrança: hidratação. O calor potencializa os efeitos do álcool. Vinho pede água. Sempre. Para cada taça, alguns goles de água mantêm o prazer, o equilíbrio e a lucidez. Afinal, o objetivo é brindar, não cair no reino de Baco antes do pôr do sol.
No fim das contas, vinho no verão não é sobre regras rígidas. É sobre frescor, leveza e prazer. Escolha bem, sirva corretamente e aproveite. Porque abrir uma garrafa sob o sol também é um ato de sabedoria.

Abrindo a Garrafa
Cláudia Borba