A crônica semanal do psicólogo Robson Sombrio
Me pego escrevendo quase sempre sobre a morte.
E mesmo?
Indago a vida, e não a morte.
Certamente ao escrever me envolvo com algumas vivências ou fantasias.
Na minha infância aos nove anos, por circunstâncias do acaso tive meu primeiro encontro real com a morte. Meu avô. Ele estava morando conosco quando faleceu, minha mãe o trouxe para nossa casa a fim de cuida-lo, acho que ele morreu durante o sono no hospital.
Nunca tive um vô e uma vó que cuidassem de mim, mesmo que fosse por um momento, que cuidara de mim quando criança. Fico imaginando a minha vó preparando xícaras de chocolates, fazendo bolos, contando histórias.
Então, quando fiquei sabendo da despedida do meu avô, mais do que medo, senti curiosidade. Tudo parecia tão novo e estava tão diverso. Embora o vô fosse familiar e estava nos últimos dias tão perto.
Criando coragem fui chegando perto do caixão, e olhar meu avô – uma vida, sem vida. Estava um corpo e ao mesmo tempo uma grande ausência.
Hoje olhei fotos do vô e da vó, tomei-me por um amor por alguém, os imaginando em vida, nessa vida. Pensei em quanto amor estes dois levaram e deixaram a cada filho e filha. Foram onze no total. Hoje a foto deles está na casa da minha tia, tentei reconstruir as suas existências de afetos e trabalhos.
Avôs e avós cuidam e amam, muitas vezes, mais que pai e mãe.
Naquele dia, não sei porque não tinha medo dos mortos, nem achei estranho. Pena que a gente não compreenda e aprenda muito com nossas experiências.
Não é na morte que mais penso e sim, na vida.
Refleti sobre o que talvez tenha se tornado um dos temas que mais escrevo. Como utilizamos o tempo que nos é dado?
Tempo é vida, que um dia será encerrado de modo irreversível.