O poder da união em tempos de crise por meio de ações realizadas por moradores da região, em apoio às vítimas das enchentes no RS
Luana Talamini, de Urussanga, foi umas das voluntárias nas enchentes do RS Em meio à devastação e à dor causadas pelas enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul, a solidariedade representa a esperança. É como o sol que volta a brilhar após dias nebulosos e sombrios, trazendo luz e acalento. Cada uma a seu modo, as ajudas chegam e revelam o poder da união em tempos de crise. Ainda há muito a ser feito, mas o esforço conjunto, pouco a pouco, vai proporcionando recursos - materiais ou não - que permitem o recomeço pós-tragédia. Nesta matéria, a Folha do Vale relata casos de pessoas da região que estenderam as mãos ao povo gaúcho. Além dos donativos, ofereceram tempo, dedicação e apoio emocional.
O surfista profissional de ondas grandes e empresário João Baiuka, de Laguna, que tem experiência com resgates e moto aquática, segue atuando em prol desta causa desde o início de maio. Em suas redes sociais, ele compartilha a situação enfrentada no local e aproveita de sua influência para mobilizar ajuda. Por meio de iniciativa dele e de pessoas próximas, já carregou mais de cinco carretas com doações. Além disso, atuou no resgate às vítimas já nos primeiros dias, que foram também os mais intensos e apreensivos. “Foi um momento de muita tensão e dor observar de perto este desastre natural”, descreve.
Mais que a força devastadora da natureza, o que o chocou foi a dualidade humana: enquanto a maioria se unia para enfrentar o caos, havia quem praticasse o mal. “A situação foi um pouco de guerra. Em meio à dor, existe também muita bandidagem. Para levar mantimentos, tivemos que ser acompanhados por escoltas e trabalhar em parceria com a polícia para agilizar e garantir o resgate”, relata. “Você está levando comida para as pessoas em meio à água e tem que tomar cuidado com a ladroagem. Pessoas querendo tirar vantagem, roubando as motas aquáticas, tocando terror. Isso mostra o mundo que a gente vive, mas eu fico feliz que a grande maioria é do bem e apenas 1% fica para trás”, complementa, acrescentando outro ponto que o marcou. “Ver a dor das crianças, aquela fragilidade, elas não entendendo nada do que está acontecendo”, lamenta Baiuka.
Agora, ele segue atuando no Rio Grande do Sul, angariando doações e levando aos locais de difícil acesso, onde se encontram as famílias que recebem menos assistência. “Nestes momentos é que vemos a capacidade do ser humano de se transformar em meio à dor. Fico muito feliz de poder somar. Deixo meu agradecimento a todos os voluntários, especialmente os meus parceiros que estão comigo. E agradeço a Deus por ter saúde e força para ajudar essas pessoas que estão precisando”, conclui.
A influenciadora digital de Urussanga, Luana Talamini, contribuiu angariando doações e trabalhando como voluntária no Rio Grande do Sul. “A situação é de calamidade mesmo, de desespero, medo e tristeza, mas também de muita fé e união de um país inteiro. O que mais me tocou foi a inocência das crianças e os olhares de tristeza e medo por tudo que estão vivendo”, detalha ao relembrar os dias que passou na capital Gaúcha. Luana detalha de que forma vem colaborando com a causa. “Realizei uma campanha no Instagram com pontos de arrecadações. Levamos três caminhões com doações para o Rio Grande do Sul. Lá, trabalhei na linha de frente, com entregas em várias comunidades de Porto Alegre, incluindo marmitas, roupas, águas e demais itens necessários. Também fomos para a água com barco para resgatar pessoas ilhadas”, cita.
Os reflexos desta experiência a acompanharão por toda a vida. “Aprendi que devemos dar valor a um simples copo de água, à nossa casa, nossa cama, nosso alimento na mesa e, principalmente, às pessoas que nós amamos e que estão aqui conosco”, declara. Por saber o quanto tudo isso é valioso, ela continua fazendo a sua parte. “Sigo mantendo contato e eles me passam o que estão precisando. Vamos arrecadando doações e enviando. Me sinto com o coração leve e cheio de gratidão por ter feito a minha parte com Deus e com esse povo tão sofrido”, enfatiza.
“Precisamos seguir ajudando”
Um grupo de São Ludgero e Braço do Norte montou uma verdadeira força-tarefa. A iniciativa resultou em um caminhão de quatro toneladas, dois caminhões de três toneladas e quatro camionetes, todos carregados com alimentos, água, itens de vestuários e produtos de higiene e limpeza. O assessor parlamentar Evandro Campos de Oliveira; a advogada Pamelys de Barros; o vendedor Cleverton Ercolin; e os empresários Regys Sizenando, Renato Silveira Walter e Geovani da Silva se uniram para fazer a diferença. “Contamos com vários voluntários engajados em fazer o bem e nossa campanha foi um sucesso. Por meio dela, conseguimos levar um pouco de esperança e alento aos nossos vizinhos gaúchos”, afirma Evandro.
As doações foram destinadas às cidades de Santo Antônio da Patrulha e Novo Hamburgo. Desta experiência, fica uma grande lição. “Acredito que podemos retomar a fé na humanidade. A generosidade e a união do povo estão salvando o Rio Grande do Sul e não pararemos até que eles fiquem bem. São civis salvando civis. Neste tipo de catástrofe, este tipo de ajuda é crucial. Afinal, como vimos, a assistência pública é morosa, burocrática e insuficiente. Então, precisamos seguir, incansavelmente, ajudando nossos irmãos, pois este é só o começo”, reforça.
A cidade de Imaruí já está no sétimo caminhão de doações levadas ao Rio Grande do Sul. O locutor Douglas Marques, da Web Rádio, conta que o resultado da campanha o surpreendeu. “Liguei para o empresário Glaicon Teixeira, que imediatamente colocou seus caminhões e estrutura à disposição e abraçou a campanha. Reforçamos a divulgação e as coisas foram fluindo. Superou minhas expectativas, porque eu imaginaria que conseguiríamos levar apenas um caminhão de Imaruí”, explica.
O comunicador esteve no Rio Grande do Sul e descreve o que presenciou no local. “A gente via a tristeza no olhar. Algumas pessoas sendo retiradas mortas. Pessoas que perderam tudo, o desgaste dos socorristas, o cheiro podre naquela água. É terrível”. Por isso, a principal reflexão que fica para ele é sobre o amor ao próximo. “Imaruí abraçou de fato o Rio Grande do Sul, foi uma comoção da cidade inteira. Apesar de ter poucos habitantes, conseguimos um grande volume de doações. Ficou uma grande lição de compaixão. A todas as pessoas que se engajaram nesta campanha, deixo o meu muito obrigado!”, conclui.