Referência no mundo empresarial, Valneide Exterkoetter, presidente da Geração Cerbranorte, diz que cuidar de si mesma, em primeiro lugar, é a chave para manter o equilíbrio
Ela é empresária, líder e inspira: Valneide Exterkoetter, 55 anos, é a personagem central da edição de maio, o mês das mães. Professora e atuando no ramo gráfico há mais de 30 anos, é mãe de Roger Perin, 30 anos, seu único filho.
Foi a primeira e única presidente mulher da Associação Empresarial do Vale de Braço do Norte (Acivale) nos 30 anos de história da entidade. Também é a primeira mulher a presidir a Cooperativa de Geração de Energia Elétrica e Desenvolvimento de Braço do Norte (Geração Cerbranorte).
Divorciada há 20 anos, acredita que o equilíbrio é a chave para uma vida mais saudável. Nesta entrevista, ela revela que se sente lisonjeada ao ser lembrada como inspiração e referência para outras mulheres. Enfatiza ainda a importância de as mães se organizarem e acreditarem em sua capacidade.
Folha do Vale - Como você equilibra suas responsabilidades como mãe, empresária e presidente de uma cooperativa de energia? Valneide Exterkoetter - Para manter esse equilíbrio, procuro cuidar de mim mesma em primeiro lugar, físico, mental e espiritualmente.
Como foi a transição de professora para empresária do ramo gráfico e, posteriormente, para presidente da Acivale e da Cooperativa de Geração de Energia? Valneide - Sempre gostei muito de trabalhar com pessoas e a sala de aula era um lugar onde me senti realizada. O que me cansou na profissão foi uma carga de trabalho que eu precisava levar para casa, como corrigir trabalhos e provas, além de ter que elaborar novas provas. Quando fui desafiada a trabalhar com vendas, na verdade, me desafiei a fazer isso, e senti o mesmo amor e entusiasmo que senti em sala de aula, porque cada cliente que me visitava, tinha uma história a contar e, ao ouvi-los, isso me incentivava a fazer melhor o meu trabalho. Essa conexão com a história de cada cliente foi o que me incentivou a fazer uma mudança na minha carreira.
Você observa desafios específicos por ser mulher ao assumir essas posições de liderança? Valneide – Ah, sim! Ainda encontro. Nós, mulheres, apesar de termos todas as capacidades de liderar e administrar um lar e uma empresa, ainda enfrentamos desafios devido às conquistas alcançadas ao longo de milhões de gerações. Precisamos ter mais união e respeito por nós mesmas. Percebo que, em certas regiões, principalmente onde os valores financeiros estão acima dos valores humanos, essa discriminação é maior. O que me faz seguir em frente é a certeza de que nós, mulheres, podemos contribuir para uma geração mais humana, de respeito e, principalmente, de igualdade social. Ouço muito sobre a necessidade de mais mulheres no comando, mas senti na pele o que é competir por cargas antes ocupadas apenas por homens. Quando você compete de igual para igual, muda esse discurso, mas ainda muita gente acha que somos inferiores, esquecendo da nossa capacidade criativa em superar obstáculos.
Qual é o maior ensinamento que você gostaria de passar para outras mães que também buscam realizar seus sonhos profissionais? Valneide - Olhar com amorosidade para si em primeiro lugar. Somos capazes de gerar vida, o que seria mais incrível do que isso? Se podemos gerar uma vida, também podemos cuidar dela e, principalmente, cuidar de nós mesmas. Ter autocuidado é o segredo para o equilíbrio. Digo isso porque “apanhei” muito para entender que as críticas que recebemos não são sobre nós, mas sim sobre quem as profere, o que essa pessoa gostaria que fizéssemos ou fôssemos. E isso só nos leva a ser algo que não somos. A vida é sobre nos respeitarmos e aprender a viver com nossas diferenças.
Como você encoraja seu filho a seguir seus próprios caminhos e perseguir seus objetivos? Valneide - A maternidade traz um sentimento muito intenso e inexplicável. Você olha para essa sua criação e pensa: que grande milagre! E você quer que esse ser seja melhor do que você. Então, você passa a observar seus progressos e começa a perceber que “ele é bom”. Sempre digo que cortei o cordão umbilical várias vezes e ainda continuo cortando.
Como é sua rotina diária e como você consegue conciliar seu trabalho com o cuidado com sua família? Valneide - Tenho uma rotina bem ativa, começando com atividade física às 5h30min, de segunda a quinta-feira. Nos outros dias, faço uma caminhada e meu horário de dormir varia, sempre em torno das 22h30min. São 17 horas por dia acordada e com a mente em funcionamento, porque, como comprovam os estudos, as mulheres têm muito mais pensamentos durante o dia do que os homens. Neste ciclo de 17 horas, me questiono constantemente: o que me faz feliz? Faço muitas tarefas obrigatórias, mas também me dou o direito a pausas para fazer o que me faz bem, como um intervalo para um bom café com pessoas que me motivam.
Quais são as principais lições que você aprendeu ao longo de sua jornada como mãe e líder empresarial? Valneide - A jornada de ser mãe e líder aguçou ainda mais o meu poder intuitivo, a capacidade de fazer várias coisas ao mesmo tempo, a confiar mais em mim, a desenvolver a empatia, a cooperar mais com o próximo, a ter mais disciplina e amorosidade, ser “agressiva” e receptiva, ser planejada e a consideração de que somos apenas uma pequena peça num grande tabuleiro. Que, para jogar, precisamos nos alinhar com outras pessoas.
O que significa para você ser uma referência para outras mulheres em sua comunidade? Valneide - Não pensei em ser uma referência para outras mulheres, mas se consigo, com meu jeito de levar a vida e minha maneira de ser, inspirar outras mulheres, posso dizer que me sinto lisonjeada e muito grata a todos os desafios que superei.
Como você vê o papel das mulheres na liderança empresarial e na sociedade em geral nos dias de hoje? Valneide - Nós, mulheres, precisamos nos posicionar mais. Quando falo em posicionamento, refiro-me a buscar conhecimento, dominar conteúdos e usar todo nosso poder feminino na resolução dos conflitos do dia a dia. Para mim, um líder não vê outra pessoa como adversário, mas sim como alguém com capacidade de realizar bons trabalhos. Nossa liderança não pode ser para medir forças, mas para buscar um equilíbrio que proporcione harmonia a todos os envolvidos.
Em sua opinião, qual é o maior desafio enfrentado pelas mães empreendedoras atualmente e como superá-lo? Valneide - Um dos maiores desafios é a falta de tempo. Isso é o que mais ouço nos dias atuais. Aí vem a nossa capacidade de priorizar o que realmente queremos fazer, uma vez que as ofertas de ocupação são muitas. Definir nossas prioridades, colocar cada atividade em seu real valor de escala em nossa vida. Nos questionarmos o que nos deixa felizes e estáveis, curtir nossos momentos em família porque tudo passa e passa muito rápido, os filhos crescem e partem, nós envelhecemos e temos a sensação de não termos realizado nada. Ter a coragem de dizer não para algumas situações que consomem a nossa energia.