Por Claudia Borba – Coluna Abrindo a Garrafa
Sempre que penso em São Joaquim, a imagem que vem à mente é a do frio. Daquelas manhãs em que a geada pinta de branco os campos e o vinho tinto parece se encaixar com naturalidade no cenário. Mas a verdade é que a cidade mais gelada da Serra Catarinense está mudando de identidade — ou melhor, ampliando o seu charme. E o enoturismo tem muito a ver com isso.
São Joaquim, que sempre foi sinônimo de maçã Fuji e temperaturas negativas, agora começa a ser reconhecida por algo mais: uma experiência sensorial que combina vinho, natureza, gastronomia e cultura. Com mais de 20 vinícolas em operação, a cidade está virando a chave de um modelo turístico baseado apenas na sazonalidade para algo mais perene, mais sofisticado e, ao mesmo tempo, mais acolhedor.
E não se trata apenas do vinho na taça. É o que ele traz junto: glamour, aconchego, identidade, histórias. É a caminhada entre os parreirais, a conversa com o produtor, o vinho servido com a vista de um vale imenso lá fora. É a certeza de que dá, sim, para viver São Joaquim também em janeiro — e que calor e vinho não precisam ser inimigos.
O que me encanta nesse processo é que não é só sobre atrair turistas. É sobre integrar a cidade nesse novo ciclo. O Festival de Rua, por exemplo, é uma iniciativa que coloca o vinho, o artesanato, a música e o comércio lado a lado no coração da cidade. E, talvez mais importante: coloca o morador junto. O pertencimento, afinal, é o ingrediente secreto de todo destino que dá certo.
E mesmo com todo esse crescimento, São Joaquim não está tropeçando nos próprios pés. Pelo contrário. Está construindo um turismo com responsabilidade, sem sufocar suas vocações originais. A maçã continua ali, firme. Mas agora com novas possibilidades, como o colhe-e-pague e passeios entre pomares floridos. Porque se vinho pode ser turismo, por que a maçã não pode também?
O enoturismo em São Joaquim é um convite para olhar a cidade com outros olhos — e brindar com outros sabores. E é uma alegria ver que, diferente de outras regiões que cresceram rápido demais, a Serra Catarinense está se permitindo florescer no tempo certo, como as videiras que aprendem com o frio, mas dão seus melhores frutos no calor do cuidado.
O futuro de São Joaquim não será escrito só em graus negativos. Será contado em taças servidas o ano inteiro, em experiências que aquecem por dentro e em uma cidade que soube crescer sem perder a essência.
Abrindo a Garrafa
Cláudia Borba