Segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
Braço do Norte
22 °C
17 °C
Fechar [x]
Braço do Norte
22 °C
17 °C

COLUNISTAS

As tardes de domingo

19/01/2024 09h30 | Atualizada em 18/01/2024 15h17 | Por: Antônio Faust

Alguns “causos” do saudoso futebol amador da região

Nesta primeira edição de 2024, vou relatar alguns “causos” do esporte. Como, antigamente, era difícil, mas prazeroso praticar o futebol de campo e salão, principais entretenimentos das décadas de 1970 e 1980. Como falam, quem viveu, viveu! Naquela época, tudo era difícil de conseguir, desde o material esportivo, campo ou quadra e até o meio de transporte. Por exemplo, em Grão-Pará, teve campo até metade dos anos 1970, depois, no lugar onde o Esporte Clube Brasil jogava e começava a surgir o Brasileirinho Futebol Clube, foi feito uma cerca que pegou parte do gramado. Nossa geração, para praticar o futebol de campo, teve que jogar em equipes do interior. Existia uma quadra de chão batido para o futebol de salão, que depois foi passada para cimento e era a nossa diversão. Vários campeonatos foram realizados, meio e finais de semana, sempre com grande público, pois não havia outra diversão no município. Nos domingos, além dos torneios que sempre contavam com muitas equipes, nas tardes, a única opção era embarcar em um caminhão para os jogos amistosos. Tenho certeza que, nos outros municípios, tirando a falta de um estádio, se viveu a mesma realidade. 

Viagem inesquecível

Humberto Vanderlinde, riofortunense e meu colega fazendário, hoje residindo em Joinville, me contou uma passagem que envolveu a equipe do Municipal. “Se não falha a memória, o episódio da ponte Hercílio Luz foi em fevereiro de 1980. Marcamos um jogo no campo da Universidade Federal (UFSC), em Florianópolis. O ônibus superlotado, até com pessoas sentadas em cadeiras de madeira no corredor. O nosso motorista era também um jogador, Vilson (ele morava no Travessão). O que marcou a viagem foi o fato de a ponte Hercílio Luz estar interditada para veículos pesados (ônibus e caminhões). Distraídos, adentramos na ponte, logo um carro da polícia foi nos seguindo até completar a travessia, depois fez sinal para parar. Educadamente, o policial chamou a atenção de todos pela infração cometida, inclusive, sobre o excesso de jogadores e torcedores. Mas ficou nisso, não multaram e orientaram a usar, na volta, a ponte Colombo Sales. Provavelmente, nosso ônibus foi o último veículo pesado que usou a ponte Hercílio Luz para chegar à Ilha”, detalha Humberto. 

Comunicação

Hoje em dia, para reunir uma galera para participar de uma partida é muito rápido. O celular resolve tudo. Mas, nas antigas, depois das missas, se combinava o dia do jogo e horário de partida. O caminhão encostava e quem não estivesse no horário ficava a pé. E não tinha conversa. Esta quem me contou foi o Zizo, que hoje é técnico do Esporte Clube Mar Grosso e, na época, jogador da equipe. “Uma vez fomos com uma camioneta 608 jogar no São José, Braço do Norte. Era de praxe pegar a revanche. O clube sede, geralmente, dava mais um litro de cachaça e voltávamos tomando em cima do caminhão. Em certo momento, já animados e segurando nas cordas, nas curvas a camionete balançava para um lado e outro, pois a estrada era sem asfalto. O motorista, um alemão bravo, parou o caminhão e mandou todo mundo sentar, ou descer. Claro, sentadinhos, ninguém mais deu um pio”. 

Alemão “nervoso”

Conversei um tempo com o Zizo e ouvi várias histórias dele. Em alguns casos, vou deixar de citar o nome, como diz o Paulinho Gogó, para não divulgar a identidade fisiológica da pessoa. “Uma vez, recebemos um time da Pindotiba e, pela proximidade das comunidades, era clássico, jogo quente! Nos aspirantes, deu umas rusgas e começou o jogo dos titulares. No fim do primeiro tempo, iniciou uma briga fora do campo e um dos nossos jogadores saiu do jogo para pegar o brigão, que subiu numa moto, tirou o revólver e deu dois tiros para cima. O Alemão arrancou a camisa e foi gritando: “atira em mim”. Veio um outro companheiro dele, foi chegando mais gente da comunidade, o cara se atirou no mato e só foi resgatado pelos companheiros, já de volta para casa, perto do Centro”. 

Sombra

Esta história quem me contou foi o Decarli. O Sombra foi uma equipe de futebol de salão que reinou um bom período, não só em Braço do Norte, como em toda região. Era uma máquina! Foi o campeão do torneio de inauguração do Ginásio Atílio Guisi, no ano de 1978, fazendo a final contra o Água da Serra (foto). Neste torneio, joguei pelo Bamerindus, que havia sido inaugurado em Grão-Pará, e ficamos com o terceiro lugar. A base do time tinha o goleiro Cid, Negão, Mito, a fera Serginho “Menca” e o Decarli, com o Wilsinho, irmão do Negão, de reserva. Durante quatro anos, a equipe se manteve sem perder no ginásio. Início dos anos 1980, o Sombra foi convidado para inaugurar uma quadra em Anitápolis, construída pelo seu Lourinho, braçonortense dono da empreiteira e o Jacaré (Construnorte) de pedreiro. Haveria um torneio, mas o Sombra não podia jogar, era considerado muito bom e “afugentaria” alguns times. Aproveitando a partida, que foi num sábado, no dia seguinte, a equipe faria outro jogo em Santa Rosa de Lima, na época marcada com o Rubens Vandresen, hoje dono de um posto de gasolina. “Alugamos uma Rural de um cara que morava na Texaco e a programação era jogar em Anitápolis, dormir e no outro dia vir para Santa Rosa de Lima. Só que o cara da Rural quis vir embora e ninguém veio com ele. Dormimos em Anitápolis e 7h30min saímos a pé na esperança de passar um caminhão pela gente. Que nada! Chegamos em Santa Rosa já passava do meio-dia, comendo pera pelo caminho. Fomos recepcionados pelo Rubens e depois fomos jogar com uma seleção que fizeram na cidade e ainda goleamos”, conta o Decarli.

Juízes “caseiros”

Se hoje é difícil de encontrar árbitro para jogos amistosos, imagina nas décadas de 1970 e 1980. Mas toda comunidade tinha um “guerreiro” e sempre era ele o árbitro nos jogos em casa. Por isso, todos tinham a fama de caseiros e realmente, na dúvida, era para o time da casa. Vou relatar a história que o Zizo me contou primeiro. Depois, conto a minha. “O cara era fanático pelo Mar Grosso. Naquele tempo, na equipe, só tinham jogadores da casa, todos colonos. Enfrentávamos times de fora que, geralmente, eram mais técnicos, mais evoluídos. Quando estávamos perdendo, o juiz estendia o segundo tempo. Tinha vez que passava de 65 minutos e não acabava, mas não adiantava. Nestes jogos, ao invés de conseguir o empate ou virada, o placar só aumentava em favor do visitante”.

Torneios

Torneio era a principal arrecadação de time amador. Então, tinham muitos. No começo, só ofereciam troféus e medalhas de premiação. Depois, foi aumentando para suínos, terneiros e bois. Como davam muitos times, era comum terminar sem a luz do sol, com penalidades batidas com a ajuda dos faróis de carro. “Uma vez, fomos a um torneio no Rio Pequeno, promovido pelo Paula Ramos. Fomos para a decisão e chegamos a bater vinte penalidades para definição do campeão. O prêmio era um boi, já era escuro e saímos no pasto para pegar o animal. Conseguimos quando já passava das 20 horas. Colocamos o animal em cima do caminhão e voltamos na carroceria com ele, fazendo a festa”, recorda o Zizo.  

Impedimento claro

Uma vez, o doutor Raul Vicente, único médico que atendia no Hospital em Grão-Pará, marcou um jogo na comunidade do São Pedro, em Urubici. Montou um time, subimos o Corvo Branco, jogamos, perdemos e já foi marcado o jogo da volta. Escolhemos um dia que coincidia com a Festa de São João Batista, a fim do pessoal aproveitar para ver a fogueira. Como não havia campo na cidade, fizemos o jogo na comunidade do Rio Pequeno. Jogo empatado, já no segundo tempo, lancei uma bola para o Maco, do seu Venuto, ele sozinho com o goleiro chutou por cima. Os serranos bravos foram reclamar com o árbitro, pedindo impedimento e a resposta: “Ele não viu que estava impedido. Eu queria que tivesse feito o gol para ele ver”. Toin!

Cansado

Uma vez fomos jogar no Rio Cachorrinhos. O campo não era no local onde o Palmeiras joga (jogava), era mais para o lado de Grão-Pará. Neste tempo, jogava pelo Brasileirinho FC. Já na segunda etapa, nosso lateral, o Mamão, se mandou para o ataque e perdeu a bola, então começamos a gritar para voltar para ajudar na defesa e ele, com meio metro de língua para fora da boca, falou: “Mas eu vim daí agora”.

Folha do Vale

Rua Manoel Jorge Neves, 470, Bairro Tiradentes, Gravatal, CEP: 88.735-000 - Santa Catarina.

Folha do Vale © Todos os direitos reservados.
Demand Tecnologia
WhatsApp

Utilizamos cookies para oferecer melhor experiência, melhorar o desempenho, analisar como você interage em nosso site e personalizar conteúdo. Ao utilizar este site, você concorda com o uso de cookies.

Ok, entendi!